Poemas curtos

                        Poema pequeno

Nunca diga-me meias palavras

É preciso palavras inteiras ou então o silêncio.

                        Pedido

Ama-me como o sol ama as ervas

Como as palavras ao pergaminho sedento

Ama-me com a intuição ofertada a um deus

Com o dilúvio de sorrisos da ninfa

Com o hálito louco do outono ama-me.

                        Outro pedido

Ama-me com o sem pudor dos teus olhos

Abraça-me e me condena há um verão avançando

em paraísos da tua boca.

Sobre a escrita

            PARA VILMA ELAINE.

Com o sangue escrevo

Enumero meus eitos de loucuras

Reúno meus destinos na estação do longe

Em palavras apavoro teus olhos com meus olhos.

Dama da noite

                            PARA A CARA AMIGA SÔNIA.

Quando noite, abre a flor a Dama

Suspende hálito noturno e do fundo da terra

traz o magma trevoso da agonia do belo.

Girassóis

            PARA SCHARIZA.

Sempre disputadas pelas abelhas e os campos

Amam tanto viver como flores que não querem tornar-se frutos

E são sempre flores.

Preferem morrer como flores.

Leitura

De repente entre as palavras do livro surge teu rosto

Teu olhar, sorriso e palavras…

Começo então a ler minhas lembranças.

Da janela

Comunico nascimento nas veredas de maio

Arranco do outono suas folhas

Renovo a galharia da esperança

Anuncio no ermo o que morre de mim

Convoco neblinas, encubro a dor, e da agonia retiro as lonjuras

Desacabo na terra meus pensares como folhas em maio.

História do esquecimento

Minha ânsia tem muitas fomes

Venho emigrando pelos séculos

Venta a cor do meu degredo

Sobrevive a sombra de minhas palavras.

                        Um lugar

Vizinha da frente tem uma roseira branca na janela

Vizinha da frente também tem pequenas luzinhas na janela

Vizinha da frente enfeita a vida com rosas e com luzes.

Breve

A sombra do teu corpo resplandece nas paredes de pedra

O sol alimenta essa imagem

És um sutil relevo de pedras.

Caroneiro de nadas

Segue a sensação despertada nas pedras

A sombra alheia à extensão da estrada

Na brisa retêm-se a distância do ontem

A poeira carcome a odisseia das horas

Impávido o horizonte se estende no azul e no verde

Imensidões desesperam o vento nos olhos das pedras

O caminho é seco, sedento de passos perdidos.

Corrida espacial

Eles irão levar a democracia para Marte

Pobres marcianos… Agüentarão o Estado de Direito?

                        Um presente para Elisa

Poderia dar-te meu sangue e virar átomo em teu corpo

Poderia dar-te o que guardava comigo do tempo

dividido aos teus olhos

Mas não!

Dou-te as minhas palavras

O meu amor mais eterno.

            Deusa

Negro teu corpo à varanda da lua

Teu gosto pelo escuro mantém olhos fechados

O jardim que buscas beijam teus sentidos

Aromas visitam teu corpo

Insinuam tua pele

Névoa cálida de hálito noturno teus anseios

Teus sonhos estrelas tatuadas na pele do cosmos

O corpo de Nut guardando o Egito.

Sensação do sonho

Desentranhado do ninho dos seus soluços vim

Assim ando em você, publicando seu cheiro

Acuando suas roupas, seus lábios…

Atento em suas sombras

Vadeando ao largo da sua imagem como se escoltasse um mistério.

O dormir das estrelas

PARA BIANCA.

A lua está em formato de rede

No ar há perfumes de silêncios

Uma brisa para sonhos beija-me.

Nada determina o que vejo

Nas mãos apenas o ar retido

O melhor agora é sorrir.

Do verde e azul

PARA BERNARDINHO.

Teus olhos arquivos de luz

Desvendam curiosos nas folhas o outono

São faro de gatos

Derramam-se amáveis a ver

Perdoam sem saber de pecados

Emanam amor no azul de dois céus.

Nascimento

Acordo no cimo da montanha

No alto a noite inacabada suspende seus olhos estelares

A intempérie do vento e a fogueira apagada viveram em meu sono

Amanhece mais uma aurora em minha vida

Liberto os frutos da queda dos seus galhos.

Das cinzas

É sempre preciso temer as cinzas

Há olhos enfagulhados sob o pó

Há ódios suicidas na poeira

Calafrios, loucuras, ânsias de sangue

Fragmentos calcinados exigindo vingança.

                        O manto

À noite, sonhos resvalam na névoa

Atravessam as ruas

Passam os rios de pedras polidas

Caminham o silêncio das sombras.

            Vento de pedra

Na estátua as mãos de pedra seguram um pão.

Incrustado o momento de imagem pra sempre

Um desejo imortal da ternura nos olhos de pedra

Tempo soldado na pele talhada de pedra

Gesto contido na forma sem voz do férreo sorriso de pedra

Daqui desta janela onde as nuvens movem o céu, sou a pedra.

Outono

Árvores iniciam cores terra

Sol ameno desaba calmarias

Folhas caem sobre o chão de abril.

Vulcão

Línguas de lavas movem as pedras

A Terra anuncia o canto do fogo

O silêncio escorre sua voz petrificada.

Das mudezas

As palavras estavam cercadas

Os lábios não abriam-se

Silêncio era seu nome.

Maria não veio

Aquele trem que não veio…

Será que caiu do morro?

Faltaram trilhos ao trem?

Na estação tudo é silêncio

Foram embora os passageiros

Embora foi João Ninguém

O baleiro foi pra casa sem ganhar nenhum vintém

Quem esperou não espera

Por hoje não têm mais nada

Ninguém espera aquele trem.

Estações

Quando dormia o silêncio desfolhado do outono

E as mãos do vento eram calados acenos sem eco

Chegou numa casa fria o inverno e ali fechou-se

O frio pôs gelo nos campos e poças d’água

Então a primavera iluminou as janelas com flores raiando sol

Abelhas e beija-flores povoaram a relva de canções

O caseiro abriu a porta da casa e mudou seu nome

Longe ainda a poeira do verão vinha na estrada.

O telefone acusou chamada

Pronunciei a palavra mais usual

Do outro lado um silêncio

Seria engano?

Ouvi o silêncio…

Seria quem desse mundo?

De outro mundo talvez?

Em que país?

Qual cidade?

De qual rua vens silêncio?

Tens um nome, mãos, palavras?

Interrogo minhas dúvidas

Ouço o silêncio mais nada

Indago outra vez alô

Escorre o fio do silêncio…

Pergunto nome à mudez?

Nem um suspiro o silêncio!

Sigo ouvindo… e só silêncio

Corto o telefonema, o tempo jaz ao silêncio.

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37 respostas para Poemas curtos

  1. MARIO FEIJÓ disse:

    Parabéns… está lindo seu blog se puder veja o meu…

  2. magno becker disse:

    gostei bastante …ainda não li todos ,mas ta ótimo…alguns bem exótico …

  3. dean damaseno disse:

    Caro amigo poeta, fiquei em estado de êxtase ao ler seus poemas. E o melhor de tudo é, que em um mundo que os sentimentos se tornaram tão clichê ainda existem pessoas que sabem apressiar uma boa leitura e o melhor de tudo nos levar ao mais elevado nível da imaginação…!!!

  4. Grata alegria ler suas palavras.

  5. arielly disse:

    sao lindos quem derá escrever esses poemas lindos

  6. angela disse:

    Tudo muito lindo escrito com sentimentos na mais belas palavras adorei parabéns!!!

  7. sao todos com palavras estranhas

  8. anonimo da silva pereira disse:

    se me ajudar na nota da escola eu agradeço

  9. Anonima disse:

    Ajudou muito , tenho que escrever um livro de poemas/poesias para escola e a maioria pegarei daqui ! Obrigada,alias,são todos muitos belos !

  10. Maria Clara disse:

    Gostei^^
    São todos de sua autoria?
    Para te dar os devidos créditos devo colocar “Poeta da Garrafa” mesmo?

    • Olá Maria Clara! Excetuando a pasta que intitula-se Cousas de outrens, todos os poemas são meus escritos. As fotografias também são de meus olhares. Me é uma grande alegria que dê os créditos ao Poeta da Garrafa ou ao meu nome encontrado na pasta – Quem sou? Grato pela leitura.

  11. João Jesus disse:

    Excelentes poemas!!
    Visite, eu também escrevo:
    http://letrasaventureiras.wordpress.com

  12. namelessneed disse:

    Fine work/ Thank you

  13. mialmarural disse:

    ¡Hermosos poemas!
    Ha sido un placer leerlos, Poeta da Garrafa.
    Y un gusto haber descubierto tu blog.
    Un saludo.

  14. uaíma disse:

    POETA,
    fico-lhe grato pela visita ao Uaíma. Parabéns pelos poemas. Já lhe mando uma garrafa “da boa”, bem mineira.

    Darlan

  15. Nadine Granad disse:

    Lindo seu espaço!
    Confesso que essa proposta, a disposição dos poemas deixou-me um pouco perdida… Por favor, não leia como crítica, pelo contrário… Estou acostumada ao caos e a organização me encanta… Todavia, encontrei abrigo em sua poesia…
    Essa seleção de poemas curtos lembram algo que costumo realizar em meu espaço… O pouco que muito diz!

    Muitos, gostaria de ter escrito! 😉
    O poema “Leitura”, por exemplo… Belíssimo! Somos palavras que nem todos captam!

    Beijos =)

    • Olá Nadine!
      Grato pela visita e delicadeza das palavras.
      Quando comecei com o blog no ano de 2012 resolvi organizar dessa maneira. Colocando os poemas em pastas afins. Ano passado comecei com as postagens. Por vezes os posts de fotos e poemas já se encontram em outros locais do blog. De todo modo, foi por observar que esse modelo podia ser melhorado, atingindo mais leitores e obtendo trocas como essa desse momento.
      Beijos!

  16. 86Lea disse:

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  17. pura maria garcia disse:

    Preciosos poemas que rompen “o tempo jaz ao silèncio’!!

  18. Silberperlen disse:

    Para o poema: Das mudezas
    … Oh, silêncio calmante
    ***

    O poema “Um lugar”

    Eu particularmente gosto disso

    Atenciosamente
    Barbara Hauser

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