Casa de pescador
PARA VANESSA.
Aqui nessa casa de pescador quero que navegue mareseada de luas
Quero a noite enredada em cabelos voados por ventos saídos de ti
Quero as sardas da tua carne tomando sol na varanda inundada de tardes
Nessa casa de pescador quero sereia de mar e sereia de terra
Quero teus olhos passeadores de mim e dos pássaros do mar
Quero junto sonhar oceanos de estrelas
Amontoar sambaquis no pátio dessa casa de pescador
Tenho barcos abrindo horizontes à procura de peixes
Outro voltado a derivas, outro rumando à poesia e outro cercando enseadas com tua
imagem encardumada nas ondas
Tem um porto que espera comigo o mistério nessa casa de pescador, é um porto demorado
de tempos
Um porto que se chega no escuro, no silêncio, um porto para que caminhe sobre as águas
como a luz dos astros caminham e se deixam afundar
Chegar-se-á um dia de partir deste porto para ser memória e esquecimento
Nessa casa de pescador tem endereço para teu nome
Tem brisa boa acarinhando e selvagens mãos de poeta a rasurar o verso
A tecer a rede nesse pé de morro com córrego, rio, lagoa, mar e coisas azuis que dão água
Nessa casa de pescador tem janelas para a imensidão e barcos que voam
Tem calmarias e mares lanhando imagens rupestres nessa casa de pescador.
De quando se vai ao mar
PARA ANDRINO, CÉLIO E CIRO, PESCADORES DO MAR.
Na entrada do rio e do mar há dois faróis
Há dois faróis bulindo olhos no horizonte
Plantados nas pedras e nas faces há dois faróis
Seus olhos navegantes veem ir o barco
Para fora do mundo vai…
Entre águas e céus vai o barco entremeado de azuis
O pescador leva sua fé às águas
Cavaleando as ondas vai a quilha firme a abrir a carne do mar!
Vai a arranhar o desenho azulado do céu e do mar
E deseja sol, e deseja peixe, e deseja lua e todas as estrelas não lhe bastam como amores
Ficam na terra e no ar despedidas de partidas
Ficam nas nuvens atravessadas de sol o sonho que avança para o mar
E quer marés
Quer ondas
Quer calmarias
Quer a música do mar…
Quer distâncias enredadas por peixes
Quer a solidão do mar
Para fora do céu vai o barco…
No mar há o olhar fulminado em cardumes
Riscadas de alturas as águas prateiam o vulto dos peixes
A rede cai, e cerca, e prende e enche….
Segue o barco a redemoinhar o mar
Caceia incertezas, caceia à espera dos frutos do mar
À maré de distâncias balançadas nos esmos
Distâncias que se enturvam em furores esplêndidos
Ora sóis, ventanias, ora estrelas enluadas nas negras areias do céu
Para fora do dia e da noite vai…
No grosso mar emboscadas de ventos enfunam poemas incertos nas vozes dos homens
Se perdem nas redes tecidas de nuncas pedaços do mar
E se viaja às paliçadas do sempre
Ficam nas palavras aqueles que foram além das águas do mar
Ficam nos ventos que passam pelo azul
Dormem naufragados
Salinados de lágrimas
Dormem além do mar…
Foram tufões, maremotos, frios terríveis…
Foram livres cavaleiros do mar
Na costa, esperanças são cardumes perdidos
Tarrafas tecidas de esperas vazias
Olhos e vísceras visadas ao mar
São olhos que esperam o barco voltar, e os olhos não trazem
São olhos que sofrem do amor azulado do mar
São conchas que abrem-se no fundo do mar.
Do Homem que enfrentou o Mar
Bravos sais da tempestade arrancai do mar as paciências!
Desordena suas vagas em meus olhos
Roube os soluços de minhas veias
Quebre quilhas, lemes, rasgue velas de veleiros solitários
Grande mar trajado de estrelas
Avarie o ritmo dos astros
Inunde as torres faroladas
Que afunde em teu sangue a voz da terra
Traga ó mar as cidades submersas do teu corpo
Grosso mar carneie a costa!
Viole a pedra impávida, alague lavas
Desabe nas montanhas o furioso tsunami do infinito
Destrua metrópoles, vaze cargueiros
Corroa o gelo de tuas lágrimas
Resseque nas areias de mil dunas
Evapore no céu das calmarias
Apague o sol, silencia o cosmos
Em todo azul ponha negrores
Lave os gases das galáxias
Suspenda os cabelos das sereias em eternas ondas de vapores nebulosos
Longos cílios do mar fechem seus olhos
Rochedos esfarelem nas suas garras
Brisas de sal soterrem o verde nascimento de minha vida
Sacie tua fome insaciada em minhas mãos enconchadas em teu ventre
Lamba suas ondas ao refluxo que escondes para fora do horizonte
Marine em redemoinho a bandeira dos piratas
Deflagre ao céu a cegueira que se cobre atrás das vestes invisíveis da tua raiva
Corrompa a densa nuvem da História
Alague geografias, adense em majestade sem controle
Encharque a pele do meu verso
Venha em mim numa só onda
Apague de vez todas as luzes
Morra em mim como num sonho impossível de voltar a estar sonhado
Fuja em mim toda sua água
Cristaliza a terra em diamante
Troquemos o amargo gosto envidraçado ao cravar a minha morte em tua morte
Em outro Mar Neruda ilhado em sua Ilha convença-te a voltar para teu leito.
Horizontes
Ao mar!
Ao mar!
Veleiro ensolarado de janeiros
Velas assentadas para o vento!
Empurrai minha flama aos nós desse barco adentrando
Vou ante tempestades aninhadas nos ventos que envelam minha vida
Há sorrisos de piratas, ilhas perdidas, bússolas em pânico…
Há ondas sulcando a quilha que leva à imensidão coroada de lonjuras
Há o tempo cortado em meus olhos
Nevoeiros perdidos
Sóis sublimando auroras
Noites apunhaladas pelo raio escondido no veio dos ares
Há o deserto de ares e céus
Há um desterro, uma deriva, uma solidão que se afasta voltando.
De um naufrágio
Estou no mar
Que venham os esmos!
Que o barco naufrague – não morro!
Que as tempestades arranquem os pelos do meu corpo – não caio desse barco a pique
Que a quilha quebre com as punhaladas do mar – em ti não morro!
Que as gaivotas rumem para a terra e me deixem perdido!
Que as baratas do mar suguem a tristeza da carne das sereias, mas não se aproximem de
minhas vísceras, sou o teu veneno!
Que as ilhas afundem nesse sangue azul e eu não tenha nada além da fúria de lutar em
teu corpo que não conseguirá matar-me
Que os tubarões e outros carniceiros não me venham espreitar!
Eu sou o monstro que faltava no mar!
Eu sou o que não aceita tua impiedade.
Mirante
Daqui o mirante indaga a Ilha do Campeche
Os olhos do poeta rebatem horizontes laminados de águas e céus
Fúrias cingidas de sais carcomem a enseada
Invadem os jardins da beira mar
Ali o barqueiro indaga o mar
Confia em neblinas
Marinhados mistérios, fantasmas, naufrágios…
Navega incertezas lagrimadas ao mar
Artesiona náuticas visagens
Embarca em calmas ondas despidas de medo
Joga-se aos conveses na luta do peixe e do arpão
Rasurado de sangue tece redes de espera
Bebe vazias malhas enredadas nas guelras do ontem
Além, como o mar ondeando as praias
Atracando nas areias
Fundeado às margens da Armação ou no indestino do mar vai o barco
Vai o sonho
A fome de lonjuras
Os silêncios de Netuno…
Todo longe é contemporâneo dessas horas
Mas longe não sabe o pescador o que acontece
Do longe os pensamentos são miragens ancoradas nas docas da memória
Não é necessário ser fiel a nada.
Daquele que anda
AOS ANARQUISTAS.
Por mim que os mercados cerrem suas portas
Buscarei no céu os méis da lua
Colherei maçãs vermelhas nos jardins edenados de poesias
Descerei nos labirintos dos mares azulados
Sangrarei a voz do Marlin e do Branco Tubarão esfolarei sua couraça
Dos serenos beberei orvalhadas as manhãs
Dos caules mortos vermes encernados serão carne
As pinhas araucárias esquilarei entre meus dentes
Das pérolas arrancarei as negras ostras
Das conchas sacarei a voz dos mares e suas canções serão também meu alimento
Das montanhas enrrochadas beberei suas nevascas
Sambaquis amontoarão nas ossadas seculares de meus dentes
Assim serei um andarilho a cavar no ar minhas vertentes.
Sobre amor e águas
Do fundo do mar ela veio
Uma sereia sozinha é uma sereia à deriva
Nas águas deixou o risco da sua cor
Pescador Louco quis arpoá-la e navegou o caminho da sua cor
Ela, a sereia foi nadando lenta pelas águas espumadas do mar
O barco de Pescador Louco encurtou um oceano de lonjuras
Ela, a sereia cantava a mais bela canção da natureza
Ouviu-se no meio do azul o som do arpão cair das mãos de Pescador Louco
O mar declinou de ondas, fez-se campo azulado com águas e sais adoçados
Ela, a sereia continuava cantando o fascínio
Pescador Louco foi-se às águas e nadou
Já não era capitão do barco nem de si
O barco sozinho ficou à deriva
Pescador Louco amou a sereia que veio do fundo do mar
Ela, a sereia amou Pescador Louco à deriva no campo azulado do mar.
Pesqueiros
Aos que molharam anzóis no Rio Itacurubi.
“Tem o pesqueiro da Abelha que é assombrado. Uma vez fomos eu (Flávio), o Carlos, Edi e o Ailton. Seu Antônio Lima ficou de ir pescar… daí conversa vai, conversa vem, lá pelas tantas, era umas nove horas da noite ouvimos um alguém caminhando no mato. O Edi pegou um facho de taquara e se deslocou até o encontro do Seu Antônio, chegando uma altura ele chamou pelo nome e ninguém respondeu. Fomos embora e passamos na casa dele e Seu Antônio comentou que não tinha saído.”
“De pescarias, assombros e cobras grandes, passa-se uma noite contando e sobra assunto.”
Olizon Rocha de Lourenço
Meu irmão gosta de peixe e de pescar
Quando pequeno o via sair apressado
Pegava a rede do pai, suas linhas e ia
O rio ficava perto
Mas para eu pequeno era longe
Via-se a mata ciliar de cima da coxilha
Daquela casa de cima em meio ao pampa
Meu irmão entardecia junto ao rio com seus amigos
O pai sempre perguntava
Em qual pesqueiro vais?
Vou à Cozinha Queimada
Lagoão fundo e misterioso
Suas águas não são boas de olhar só
Dizem haver prata no fundo
Mas do fundo ninguém sabe
Em que pesqueiro vais?
Vou ao Redondo
Lagoão bonito de ver
Tem dourado e tem a lua
Qual dos dois eu vou fisgar?
Em que pesqueiro vais hoje?
Vou pescar lá no Capincho
Onde o pasto é sempre verde
Vou passar no cemitério e rezar pelo Vômero
Que por lá vai descansando
Em que pesqueiro vais?
Vou à Forquilha
Árvore grande, a maior de lá
Há tempos de não sei quando a árvore caiu
Nalguma enchente muy grande a árvore deitou-se ali
É quase pedra encalhada
Quando água pouca a árvore aparece
Têm-se então a majestade enforquilhada de águas
Em que pesqueiro vais hoje?
Vou à Rocinha da Sinhá
Lugar aberto no mato
Que lavravam a gente antiga
Ficou ali o descampado carregado de memórias
E onde vais pescar hoje?
Vou ao pesqueiro do Frango
Pra fazer a galinhada
O Vilson leva a panela
E por lá vamos ficando no recavem das linhadas
Em que pesqueiro vais hoje?
Vou pescar no Leãozinho
Tem a viola do Jaime
Seu Marçal contando causos
E uns goles de coisa forte
Vai que os peixes não queiram beliscar as iscas
Em que pesqueiro vais hoje?
Vou até a Tabatinga
Vamos dar umas linhadas
Aproveitar o Rio cheio
Algum jundiá há de ter nas águas avermelhadas
Em que pesqueiro vais hoje?
Vou lá ao das Três Mulheres
Num tempo de muito longe se afogaram
no lagoão tais mulheres que eram três
Tio Kid sabia os nomes e contava no galpão
Agora lembro tio Kid que encilhava o Chimarrão
Em que pesqueiro vais hoje?
Talvez à Tronqueira
Ou qualquer lugar com água do velho Itacurubi
Quero matar a saudade dos amigos que se foram
Pra pescar n’outro barranco
Quero ver as suas águas correndo devagarzinho
Como se fosse um vãozinho na porta desse passado
Vá que não nos dê tempo para pescar de novo.
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Pingback: Poemas sobre pesca | Oikologías
Quer a música do mar…
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