Poesia para minha Morte
Será sem saber como, imagino
Será na batalha final entre mim e o tempo
Haverá um pássaro azul na árvore junto aos meus olhos?
De flores estarão cobertas as cerejeiras do Japão, talvez nessa hora
Uma guerra travada na Zâmbia, talvez nessa hora elimine culturas
Um submarino de marinheiros mortos tocará o mais fundo do mar, talvez nessa hora
O sol impedido, talvez nessa hora escureça pra sempre
Será no meio fio da Rua das Lonjuras?
Será na solidão de miragens em Gobi onde a sede do beduíno não importa ao deserto?
Será nos braços de mouras num palácio andaluz?
Talvez nessa hora seja eu o ponto cinzento caído sob as brumas de Londres
Ou talvez a morte não queira minha morte
Seja eu um pirata na mira longínqua de outro pirata
Talvez nessa hora as ondas do mar se elevem tão alto afogando as enseadas de minhas
retinas
Talvez nessa hora a lua encubra-se de sol e a noite eternize em meus lábios o verso da vida
Nessa hora talvez ninguém saiba qual seja meu nome
Talvez naufragado me encontre no mar a rede certeira e jogado ao convés de um barco
pesqueiro tragam à terra um pedaço de mim
Nessa hora talvez as Negras Montanhas enrrochem minha carne e haja dança em meio à
neve que cai sobre índios ao sul de Dakota
Canções sibilando nos ventos talvez nessa hora se abrandem e calado o violino do tempo
se abrace aos meus braços como um beijo em silêncio
Negras bandeiras talvez se levantem nos olhos daqueles que vivem onde nasci
Nessa hora um poema incompleto se apaga em mim.
Um pouco de morte
Nunca vá além do fundo.
Lá está a resposta que você não precisa.
Não quer!
Não insista, eu já disse!
Espere, não cave nesse poço vazio.
Estás louco, eu sei bem maldito irmão!
Parece que estamos todos loucos.
Todos a fim de loucuras extremas.
Mas não cave!
Não cave porque vai chegar o dia.
O dia do gran finale.
O dia de tomar consciência que estás morto.
O dia de morrer por você mesmo.
O dia de estar no buraco que não cavará.
O dia da explicação da morte em sua explanação.
O dia de mergulhar no fundo de alguma coisa que você nunca saberá.
Sobre a morte
Aqui espero ternamente
Não sei se será cilada, bala perdida, ou um calmo apagar de luzes
Não sei que aventura ou tempestades enfrentarei nos desertos calados de mim
Que abraços terei ao partir!
Depois de cada aceno serei recompensado com o voo do Cosmos?
Serei partícipe à mesa do teu silêncio que chama-me?
Ilustrarei um mapa de galáxias?
Farei explícitos meus sonhos e minhas melodias?
Então?
Diga-me, depois eu volto para beijar-te.
Minha hora
PARA O AMIGO SAULO, ESTE POEMA DIGNO.
Saberão os amigos que um dia vivi
Que andei pelas veredas dos sonhos
Compartilhei fogueiras insones e loucas
Como louco é o mais belo fogo que queima
Saberão que recitei a vida no vinho
Apreciei auroras e crepúsculos
Conheci palácios fincados no gueto dos meus dias
e assumi a palavra como império
Quando eu morrer depositem nos meus olhos as moedas do barqueiro
Para que eu singre o Aqueronte até o fim
Para que desembarque no inferno meu poema
Lá a Mulher me trará o vinho
Purgarei minha eternidade com as dores dos amantes.
Se eu fosse a sua morte
Navegaria as águas do mundo envelado em seus olhos
Sorriria seu sorriso navalhado em distâncias
Com o puro amor de meus desejos beijaria seus lábios
No eco de suas orelhas belas palavras arrancadas de mim, se eu fosse sua morte
E seria eu as quentes areias coladas na pele de suas enseadas
A pálpebra delicada na face que dorme
E seria você a sombra a acompanhar-me pelos mares e céus
Seria você a tempestade e a calmaria de voluptuosas marés em meu peito
Seriam as fortes ondas de seus cabelos a estilhaçar meus ombros mar adentro
Se eu fosse a sua morte morreria contigo
E que Ela em sua voz abraçasse-me e dissesse-me – eu lhe amo meu mais novo amante.
Rendido
Desaba a noite no teu pesadelo ácido.
Vaga nas ruas mais escuras no modelo da loucura.
Nunca entendeu o que assistiu na ilusão da vida.
Nunca tocou o inesperado.
Mas o que leva um homem tocar a morte?
Sentir sua frieza.
A morte é o princípio do nada?
Ou será como os sonhos…
Vê! Quisera morrer estando em dúvida?
Morrer é fácil demais!
Morrer demente como em pesadelos
Sem cor
Sem canções
Tocar a face da morte tépida como um beijo
Livrar-se de chagas
Causar dor
A morte é indolor?
Sem nada?
Morrer é sumir?
Esvaziar-se?
Estar só novamente?
Querer a morte
Estar livre
Doido e morto num milésimo.
Estar só é mais difícil que morrer.
Estar sozinho e ter a estranha companhia da solidão.
Mas a morte
O que será a morte?
Derradeiro
Descansa nesse som o corpo para o silêncio
Reclama com as últimas forças da tua dor!
Ouve! Há o grito dos pássaros agourentos no cimo da noite
O alarido obscuro vem do pântano que assumirá tua carne
Observa sem medo essa bruma que te guarda
Caminha no Cosmos rompendo dialéticas
Atravessa a luz dos milênios numa órbita louca
Reverbera em fogo teu verbo nascido de Vênus
Compõe o funeral da antiga cepa perdida em teu sangue
És eterno o luto de tua fome incompreendida.
Olá! Boa noite, eu gostaria de saber quem é o autor destes poemas.
Olá Bruna! Meu nome é Odilon Machado de Lourenço. Sou autor dos poemas e fotografias postadas no blog. Grato pela leitura.
Paese di mare il Portogallo che ritorna spesso nei tuoi versi.
Peccato la traduzione sicuramente saranno molto più preziosi.
Sherazade
Ciao, Sherazade!
Mi sono laureato in Storia. Deriva da studi di navigazioni molte delle immagini dei miei versi. Ho anche vissuto con comunità di pescatori a Florianópolis. La gente discese dalle Azzorre …
Grazie del chiarimento. Molto interessate l influenza nei tuoi scritti.
shera
Uso molti riferimenti quotidiani in ciò che scrivo.
Gratitudine per il commento.
Fiquei em delírios…
Gratidão pela visita e palavras Jeremias.
Excelente tarde a vós!
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