Do morro
Vou dizer-lhes porque vou ao morro
Há samba nas vozes que tocam pandeiros no morro
Pipas subindo no céu abarrotado do morro
Degraus para galáxias têm o morro
Meninas sorrindo nas janelas das casas do morro
Maçarocas de fios enrodilhando o alto têm o morro
Pessoas olhando o mundo no cume do morro
Conversas de ventos no verde do morro
Águas descendo tortuosos caminhos do morro
Ladeiras que guardam o assovio do malandro têm o morro
Quilombolas plantando suas casas no morro
Gentes sem números têm o morro.
Bilhete para o Brasil
Querido Brasil
Como tens duvidado tanto da força de teu povo?
E ficado aí pelos cantos do teu imenso corpo
Às vezes você sente sede, não sentes?
Ali naquela região do teu ombro, o Nordeste sabes?
Será que não tens uns vintenzinhos para abrir uns poços por lá meu querido Brasil?
Tanta bacia hidrográfica por aí
Aquíferos para quem mesmo?
Mas você gosta de perfurar poços de petróleo
E tão longe da costa, nada barato teu passatempo
Salgado pra eu, tio Juca, o Zé…
Aquele que te sonega te acha salgado Brasil!
Você anda pondo pimenta à mesa dos teus filhos
Mas isso é só tempero
Quero ver feijão, arroz, saladas à vontade…
E sem venenos meu querido Brasil
Depois podemos olhar nos olhos um do outro
Conversar sobre esse papo de copa
Quem sabe eu driblo você meu querido Brasil
Mas é bom que me procure
Acho Brasília muito seco
Coisas do clima, teu Cerrado tem poucas árvores
Bastante soja meu querido Brasil!
Estão aceitando transgênicos na China?
Parece que por agora ainda estão
Mas como te dizia
Me procure Brasil!
Poderei estar na fila de algum hospital procurando um médico para você
Somos tantos os brasileiros procurando edifícios com letreiros escritos – hospital,
escola, parques de diversões em geral…
Seria muito bom atendê-lo meu querido Brasil
Mas os ônibus têm demorado a passar por aqui
Talvez nem consiga marcar consulta para você
As estradas estão esburacadas?
Podem os ônibus ter quebrado?
Ah! Podem ser os grevistas!
Só não sei direito quem são
Os motoristas ou os usuários
Sei que tem fumaças na avenida meu querido Brasil.
Um poema
À SARA CAUMO GUERRA E RODRIGO HERMANO.
Quero escrever um poema que não tenha limites
Que tenha a beleza da face de Aurora quando o dia nascer
Um poema encharcado de sol, vinho tinto e liras entoando magias
Deve ser belo como o abraço de amigos, ao depararem frente a frente as luas
passadas num sorriso incurável
Esse poema deve ter versos apunhalados de todo amor possível
E não traga sangue, nem morte
Deve apenas sublimar o vermelho da rosa mais linda
Um poema que tenha delírios celestes, nebulosas loucas, mares anunciando
a chegada das naus da bela senhora que a todos abraça
Quero um poema justo em sua anarquia
Que possa ser lavrado, adubado e ao nascer a carne que brotar seja exposta,
apontada, cuidada, colhida e à mesa posta
Sem lugares determinados
Peço ao menos que meus versos preferidos não sentem muito longe
Que eu veja um pouco seus sorrisos ao canto do olho
E possamos brindar nossa saúde.
Brindemos! Muito bem!
Gratidão por sua presença e palavras Olivarui.
Link un abrazo juan https://masticadoresbrasil.wordpress.com/2021/11/02/do-morro-by-odilon-machado-de-lourenco/