9ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Sede de Água”
Março/09
Rio de pedras pequenas
AO RIO ITACURUBI, ONDE BEBI MINHA INFÂNCIA.
Estou longe das vontades cotidianas
Em meus músculos resvala o calor da tarde
O domínio incerto de pensares avoluma-se
nos suores da relva
O vento passa em borboletas esporádicas
As águas se cobrem de sombras
Amaino minha calma.
10ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Mãe, Amor Incondicional”
Maio/09
Mãe
Foi ela que me disse que os seios das mulheres amolecem
Disse-me quando pequeno sugava seu leite
Quando me acariciava deitando seus beijos
Segurando meu corpo
Foi ela que me viu crescer entre as árvores e o campo
Curou-me as feridas
Zelou meu sono
Vestiu-me e disse
Vai ao mundo filho meu
Vai descobrir teus anseios
Amar tuas mulheres
Decolar no infinito céu que te guiará como um dia te guiei.
11ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Namorar… Enamorar-se…
Traz Paz…”
Junho/09
Motivos
Acontece que teus lábios me interessam
Que teus cabelos me endeusam
Acontece que teu olhar me ama sempre e me entorpece teu hálito
Acontece que teus pés caminham comigo e tuas mãos são finas
taças de bronze ofertando o vinho
Acontece que teus braços me aprazem no abraço
Que em tuas pernas ondulam sereias nadando em meu mar
Acontece que contigo procuro em mim palavras livres.
12ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Amizade… Reduto de Paz…”
Julho/09
Da amizade
Ali os amigos estão acordados com o silêncio…
Ouvem as lembranças, redimem as distâncias, calam…
Na inconstância sonham, criam imagens, sorrisos e
Abraços nalguma estação do longe
Quando partem são saudade alegre,
Olhar que finda na curva
Esperança de um dia se encontrarem.
13ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Caminhos de Pais (PAZ)”
Agosto/09
Daquelas horas
À OLIZON, MEU PAI.
Saíamos nas encantadas luas do Rincão
Éramos silêncios a mirar os campos…
Nas águas serenamos a tarde dos verões singelos
Partilhamos ternas aventuras
Abrimos livros e lavras
Plantamos sonhos nos caminhos das distâncias
Ombro a ombro falquejamos a vida nascida em nós dois.
14ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Palavras de Paz”
Outubro/09
Sentidos
PARA CARLOS MIGUEL SANTOS FONSECA.
Sai dos olhos a fome da paz
Das mãos sai o canto da paz
Dos ouvidos sai a calma da paz
Sai da boca o beijo da paz
Envolve caminhos, luares, abraços…
O aroma da paz.
15ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Nossos Passarinhos…Onde?
Para onde foram nossos passarinhos?”
Novembro/09
Das asas que não voam
Voado de nuvens o canto dos pássaros pousam silenciando amanheceres
Nos deslimites do céu revoam solitários olhos ensasados de paisagens
Celestes miragens engastadas de azul anunciam voares perdidos
Sóis enfurecidos revelam cantares lanhados de ares
Luares serenados encorujam os olhares do esmo
ventos ermos navegam sem asas ao rumo dos bandos
Aninha-se na relva a cor do meu pouso.
16ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Natal Viva Expressão de Paz, Amor e Bem!”
Dezembro/09
Natal
À IVO AMAURI MACHADO ASSUNÇÃO.
No alto um pássaro carrega o peito
estriado em vermelho
É Cristo voando sem cruz?
É a paz desenhada sem sangue?
Ou o bem carregado nos ventos?
O pássaro pousa às galhadas da esperança
Cristo caminha entre os pomares da vida
A paz se mastiga na carne dos frutos
O bem renasce em mim e você
O pássaro canta o encanto do mundo
Cristo ceia, oferta o pão e o vinho.
18ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Dia Internacional da Mulher”
Março/10
Mulher
Como um lobo percorro os deslimites das suas curvas
Analiso seus aromas
Observo perfis, sensações…
Como um lobo uivo em suas lembranças
Sorrio em sua boca enfurecida
Ouço em seus ouvidos meu silêncio
Enxergo nos seus olhos minha fome.
20ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“31 de Maio
Dia Mundial sem Tabaco”
Maio/10
Acabaram os cigarros
PARA KAUÊ CATALFAMO, POETA-IRMÃO.
No convés ensolarado de horizontes não fumam os marinheiros
Não fumam os operários no descanso do dia
De escalas em escalas não fumam as aeromoças baforadas de nuvens
Não fumam os andarilhos mesclados às marquises da cidade enluada
Rasgando a farda não fumam os soldados feridos no front
Não fumam os jogadores que perderam no cassino a volta pra casa
Enfumaçados de versos não fumam os poetas no meio dos poemas
Não fumam os amantes quando há despedida
Quando a lua é o sol clareando a noite não fumam os boêmios
Não fumam os sábios, nem o taberneiro do bar de neon no porto em Rio Grande
Não fuma John Wayne cercado de índios e búfalos mortos na marcha ao oeste
Nem James Dean em seu carro brilhante enfumaça os cinemas
Aos estrídulos do jazz não fumam os beats na São Francisco encharcada de luzes e
cavalos de aço
Não fumam Vinícius e Tom seus brindes de sambas e bossas caminhados em Copacabana
Não fumam os derrotados, os bancarrotas, os deserdados, os sem honra não fumam!
Não fumam os sem pátria, nem os parias nas ruas da fome
Acabaram os cigarros.
22ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Amizade – uma das nuanças do amor”
Julho/10
Vanda Ferreira
Viajam no tempo as palavras que escrevo
A vida em grafadas imagens se revelam em teu gesto
Na distância atravessada de luas tuas vozes voam tuiuiús
Das florestas irmanas a relva
A cor das tuas ausências
Flores encharcam de polens tuas auroras
Ervas embrisam de aromas tuas pegadas
Resenham cardumes de peixes em teus olhos
Renascem sombras alagadas nos teus pés
E a noite quando o grito da floresta ruge
Ignoras o tempo e falas com a vida
Rios sonoram teu canto de poetisa
Assumes então a voz da floresta anoitecida.
23ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Entre o Azul e o Verde”
(O ozônio está no espaço-azul
e o verde na floresta amazônica)
Setembro/10
Amazônia
Ainda é feita de árvores a tua floresta
Ainda alagam-se as veredas de teus rios que são doces e imensos
Teus cardumes são peixes atravessados de mercúrio
São gentes palafitadas na flâmula verde do céu que desfia
São seringueiras rasgadas de seivas e sangue, eis tua carne
Ainda é feita de índios a tua floresta
Apesar das línguas mortas e de tudo que vivia em ti e foi extinto
Ainda há feras ganindo em tuas luas e medos noturnos
Há selvagens na estrada de ferro que espanta tua fauna
Há botos vestidos de homens levando meninas
para o escuro denso de teus gritos
Há Iaras emergindo no porto em Manaus, nas encantarias, nas fábricas…
De juta enfibram-se as mãos adolescentes nos igarapés perdidos nas planícies
Um curupira sozinho não vence motosserras e garimpos
Nenhum garimpeiro trocará ouro, diamantes e demais minérios por tua paz
De terras reviradas segue teu destino
O saque das tuas cores
Tuas enfumaçadas reservas são átomos mortíferos
O céu é mais sol e o boi menos árvore.
24ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Palavras de Paz II”
Outubro/10
Das mãos
PARA BRUNO ZERBIEN BETIN VICENSI
Peguei a mão do sol e conheci cores nascidas da terra
Peguei a mão da lua e derramei estrelas no imenso do céu
Peguei a mão da árvore e sacie a fome, a sede e tive a ternura de sua sombra
Peguei a mão do poema e conheci lugares, coisas e sonhos nascidos em outros
Peguei a mão da distância e visitei meus amigos, abracei minha família e olhei
Para teus olhos em minhas palavras.
25ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“O Pensamento”
Novembro/10
Pensamento
Despertado do fundo do vórtex voa esta dádiva
Encontro-o a nascer nas gentes
Como a chuva despencando nuvens
Regando estradas
Como raios a atravessar os ares em toda parte
Como as flores nascendo no cimo dos sóis
Vejo-o rompendo a carne, o cérebro, a imagem que se perde no tempo
Vejo-o se erguendo da semente propulsora nas chamas da terra
Habitando voos em paisagens ilusórias
Sangrando às mãos da lavra
Sendo mágico caminhar de nuvens perdidas
Olho a debater-se insone
Saindo para a louca liberdade da vida
Querendo desgrenhar-se pelas florestas
Caminhar sobre as pedras de luas infindas
Atravessar muralhas nervosas
Mirar séculos
Acender os olhos de fogueiras longínquas
Ah! Pensamento! Pensamento!
Cuido seu nascituro
Para que vire forma, vire arte, vire o belo.
27ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Solidariedade”
Janeiro/11
Da solidariedade
Por onde andam as mãos solidárias que não vem socorrer-me nesta chuva de sóis?
Que não vem acariciar-me nesta noite de lua
Por onde andam minhas mãos calejadas de sol que não tocam a
música carinhosa do amor
O rosto faceado em belezas da menina de sardas
Por onde andam os abraços amigos guardando distâncias…?
E porque as distâncias se espalham na ampulheta do tempo?
Porque o desenho da vida traz o gesto da dor e a dor nunca tarda?
Porque afunda na noite a punhalada violenta dos astros?
Por onde andam os pedaços da terra a fertilizar abandonos?
E o peito aquecido de amor em que sonhos perdeu-se…?
Por onde andam as mãos solidárias que não sinto na névoa?
Porque a ternura perdeu sua sombra arrimada em ganância?
28ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Simplesmente… Mulher!”
Fevereiro/11
Sereia
Nas horas atentas ao sol caminha enseierada a mulher
Seus cabelos cacheados em ondas de ouro desabando em mar alto transcendem à luz
Nos lábios um porto enluado
Um tropel de cavalos
Uma dança vermelha
Na pele neves andinas
Papiros de arroz
Céus inflamados
Correntes de lavas…
Das lonjuras os olhos reaninham canções
Rascunham memórias lampejadas de azul
Segredos se acendem em suas palavras
Cada curva em seu corpo é uma mão tateante queimando em si mesma
Enseadas marinhadas de espumas atendem seus passos
É ela que o mar ciumento esconde em suas águas.
30ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Dia do Planeta Terra”
&
“Dia Mundial do Livro e
Direito do Autor”
Abril/11
Terra
Caríssima Terra – quero dizer-lhe que te amo
Quero mostrar-lhe que toda minha carne vem do teu ventre
Que toda minha arte e as varreduras provocadas por mim veem de ti
Que por tua causa as rosas vêm serenadas beijar minha boca
Por tua causa eu largo sementes no teu dorso
Colho tudo que oferece-mes do teu seio de mulher que ama a todos
E rego meu jardim e faço nascer contigo todo o amor
E caminho feliz em tua orbe de quase insuportável beleza
Rolo em tuas areias e avanço ao mar entranhado em teu cerne
E corro, navego, suspiro, me ponho sublime em teu corpo.
Livro
Pergaminho rasurado de tinta folheado em minhas mãos sou teu habitante
Pássaro falante das línguas voo contigo pelo tempo envelado em tuas asas
Garimpo em tuas esquinas coroadas de verbos
Semeio em tua voz…
Pedra entalhada de imagens sou teu operário
Teus labirintos, teus enganos, tuas belezas impossíveis
As folhas passando a urrar liberdade
Argila cunhada de rúnicas mensagens sou tua lira
A carta desse rei sem reinado, sem posses, sem bibliotecas, sem papel de padaria
Livro sem dono queimado na praça teu censor está morto
A palavra revidará cada chama, nenhuma cultura pode morrer em tuas páginas.
31ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Mãe: O Amor mais Puro”
Maio/11
Sobre como estou indo
Mãe!
Tem uma brisa nessa ilha que é um carinho do ar que dá vida a teu filho
Mãe!
Tem um barco que leva-me…
Sempre que posso pesco estrelas e o sol agarra meu sonho de mar
Mãe!
Tem um rádio tocando rock and roll e muito samba no meu
coração que é canção feita dos teus olhos
Mãe!
Tem uma distância entre o teu abraço
Como moras distante do mar as gaivotas me levam ao teu encontro
Mãe!
Tem alunos que passam à minha rua e uma escola que espera o melhor do teu filho
Mãe!
Minhas escolhas são ondas a sulcar rochedos e as mãos endureceram teu nome nos olhos do
tempo.
32ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“O Bicho-Homem: Feitor da Vida”
Junho/11
Aquele que sabe que sabe
PARA KAREN PIRES.
Vem do fundo dos séculos a imagem encavernada
São ancestrais mastigando o que as mãos encontraram em veredas
Vem no sílex empedrado o sangue da caça pintada em memórias rupestres
Habitando silêncios vem o índex perdido nos ventos do tempo
Há raios guardados em brasas sob cinzas quentes
Paus de guerra…
Há coisas colhidas nos caminhos
Pontas de ossos de caça e de guerra
Metais derretendo nas longas fogueiras crepitando quimeras
Falares antigos nas bocas anciãs
Coisas do pão e da guerra
Do povo emigrando…
Ora era o fogo, ora era o trigo, ora era o ouro, ora era nada
Ora era o campo, ora a pirâmide, ora a igreja, ora era a fábrica
Ora era livre, ora era louco, ora era preso, ora era a farda
Ora na árvore, ora no solo, ora no mar, ora no muro
Ora eram flechas, ora castelos, ora navios, ora aviões
Ora era o soco, ora era a clava, ora o cavalo, ora uma bomba
Ora a memória, ora não lembro, ora os avós, ora era o pai
Ora a palavra, ora uma sombra, ora não sei, ora o que há.
34ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“A Arte e a Natureza”
Agosto/11
Um jardim
Lapido a forma seca do outono
Folha a folha desprendo as formas apagadas de vida
Conservo a seiva em teu inverno
O cheiro de primavera em tuas cores
Desenho nas mãos os teus espinhos
Arremeto verão em tuas alturas
Teus verdes sóis são irmãos de minha glória
Como os reis da Pérsia sou teu jardineiro.
36ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“O Poder da Palavra de Fé”
Novembro/11
Palavra de ser fé
Você é o desenho da minha mão que sangra e ri descarado
Palavra, minha palavra é língua desobediente
Tenho em você as entonações apreendidas no fim das ruas impedidas
de seguir e que eu e você sempre seguimos
As ruas ficam para outros pés desertos de nós
E você me segue entre meus dentes
Guarda minha palavra, nessa língua louca a paz anunciada
Desaba em mim as consequências da bravia faina de lhe ser amante
Contempla-me no silêncio em que lhe faço os versos que se tangem em sua pele
Converta imagens desse sonho novo a dormir meus olhos na realidade da sua tinta carne
De agudezas e macios veludos sejas você ó Palavra Clara
37ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“A Fraternidade Ressurge nos
Corações: é Natal”
Dezembro/11
Poema fraterno
Tenho de falar de paz nesse poema
Tenho de dizer de meus irmãos que moram longe
De meus irmãos que falam outras línguas e não os conheço
Tenho de falar que estou feliz por saber que existem
Que vivem angariando o pão, o sol, a liberdade…
Que vivem em meu coração que cabem todos
Tenho de falar que tenho esperanças para meus irmãos
Digo para meus irmãos e minhas irmãs que moram longe
Que se aventuram na mesma luta das minhas mãos
Que são o sangue do mesmo sonho fraternal
E sentam à mesa comigo nessa hora
Nessa hora dada para o amor.
38ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Alegrias de Verão”
Janeiro/12
Verão na Ilha
Há um grande acontecimento no trópico
Chamem as nações amigas, a Ilha é grande o bastante
Ninguém gaste forças à toa
Não pensem em outra coisa
Venham depressa
O caminho é limpo, é suave, é doce…
Temos sombras, sóis, chuvas de cascatas…
Temos o que você quer!
Venham rápido!
Não se preocupem com nada que não seja vir
Acordemos agora!
Firmemos o contrato das palavras
Se quiserem tragam seus veleiros, o mar é grande
Temos balões, parapentes, voamos com vocês para qualquer galáxia
Temos nossas próprias pesquisas interestelares
Somos um mundo novo e te amamos
Venham rápido!
40ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Animais: Companheiros
de jornada”
Março/12
Dos companheiros
Quando venho do fundo do mundo e volto pra casa
Tem um cão que não late quando chego
Desaguado de muitas derivas volto pra casa e tem um cão que não late
É meu amigo esse cão que faz silêncio quando chego
É pêlo negro como a noite e a noite quer dele a sua cor para uivar
Buscar dentro o exercício de ser noite rasgada de uivos
Ser a serena brisa que lampeja o escuro num encontro de amor
E das escurezas trazer névoas sem cor quando chego
Nos olhos do cão a noite tem paz, a impávida paz.
41ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“4 Anos pela Cultura de Paz
Bodas de Flores e Frutas”
Abril/12
De um belo jardim
Há muitas flores nascidas, muitas flores!
Palavras perfumadas nascendo na paz
Polens raiados de sol nessas cores crescendo
Pássaros pousando e cantando versos de luz
E no canto o anuncio dos frutos encarnados de sonhos
Há sementes caindo na terra com húmus de amor
Serão brotos, arbustos, serão árvores!
E nas galhadas multicores das vozes serão sempre poesia.
42ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Mãe: Ser Privilegiado!”
Maio/12
Dona Geny
Uma mãe que eu tive era silêncio
Me olhava em silêncio e esse dizia
Uma mãe que eu tive plantava coisas na terra
Tudo nascia, até na seca, ela molhava.
Uma mãe que eu tive era professora
Seus alunos passavam em meio as suas plantas
na lavoura – era o atalho.
Uma mãe que eu tive dizia para misturar as folhas amargas
com os outros decomer
Eu comia feliz
E quando chamava:
Odilon! O almoço tá pronto.
Eu corria logo para brincar de novo depois
Uma mãe que eu tive me levou através das sangas, do rio,
e além daquilo que era horizonte naquela coxilha da infância
Ela me levava para eu ver
Eu ia até ausentar-se do seu jeito silencioso de ser
E como deixou-me ir longe aprendi a amar distâncias,
horizontes, poeiras de estradas, pedras e neblinas
Uma mãe que eu tenho fica feliz quando volto
Sorri em silêncio e me chama para o almoço
Então eu digo: – Mãe, me fez um poeta.
Mãe, eu sou cheio dos seus silêncios.
43ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“O Amor no Cotidiano de Nossa Vida”
Junho/12
Das horas que passam
Como reter esse tempo que passo contigo além da memória
De olhar suas mãos lavando uma fruta mastigada em sorrisos
De ver suas pernas torneadas de fogo caminhando a meu lado
E arrancar de seus dentes a luz da manhã para por em minha boca
Como esquecer os minutos que faltam ao chegar seus abraços
E depois abraçados render-se ao amor entranhado na alma.
44ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“O Escritor e a Comunicação
Virtual”
Julho/12
O escritor e a comunicação virtual
“Na língua guarani ñe’ê significa palavra e também significa alma.
“Creem os índios guaranis que quem mente a palavra, ou a dilapidam, são traidores da alma.”
Eduardo Galeano em Janela sobre a palavra III – As palavras andantes
É real a imagem rupestre entranhada em relevo
Sua lonjura é real
Esta lá a mão da arte, sem assinaturas, apenas arte na forma de sê-la
É real a palavra digna rascunhada no muro
Sua exigência é real
Virtual são os fatos que deixaram de ser ao ignorar a palavra
É um balaço a palavra
Os escritores somos todos lendo as palavras
Somos todos a praticar os sentidos de amor da palavra
A liberdade raiada da boca na reta palavra
É um tiro de honra a palavra
Virtual é culatra chamuscando a fala de imaginadas palavras
Não ditas palavras
De gesto infeito pela voz da palavra
Virtual é o caminho não feito depois de acordar a palavra
Não difere de um tiro a palavra.
45ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Palavras, Versos e Artes
CAPPAZ”
Agosto/12
Outro sol na varanda
Você não viu ela sair na varanda Sr. Sol, estavas acordando outros olhos
As pernas dela enchiam todo um mar
Eu estava lá
Tinha a rua, a casa em frente, o céu, e ela linda falando coisas
Mas ela estava muito ocupada Sr. Sol
Você tostou um pouco aquela pele que estava ali cobrindo aqueles ossos
Mas tivestes de ir para outro lado Sr. Sol
Eu estava lá
Tinha um mundo ali naquela casa e naquele morro
Ela memorizou minhas retinas Sr. Sol
Quis conhecer a palavra dos meus nervos
Depois foi embora como onça que entra na toca
Onça pintada Sr. Sol
E de olhar perdigueiro
Eu lhe conto porque estava lá.
Ontem
Depois de ontem tudo é diferente
Depois de ontem já não há mais chances
Não às chances de ontem
Aqueles sonhos para ontem já passaram ontem
Ontem havia uma espera e uma esperança
Havia um mundo desenhado, um belo mundo
Tinha um sol, uma lagoa e todo um céu azulado
Mas isso foi ontem.
46ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“O Idoso – Hoje”
Setembro/12
Daqueles que vivem mais
AO CARO AMIGO PAULO CESAR MARRONI VITOLLA, SUBIDOR DE MONTANHAS.
Passamos a primaveril infância descobrindo mundos
Nos erguemos acima da terra como árvores, sóis e luas brilhantes
Nos galhos de nós pousam os pássaros cantantes da vida
Caminhamos nas sombras dessa mesma árvore todo um caminho
Apanhamos os frutos dessa planta nascida dos veios da luz
Provamos o doce paladar do rito da vida brotada no tempo
E o tempo veio à relva beijar estações aprazíveis de amores
Os dias passam pelo vão dos sentidos aumentando essa árvore
O caule engrossa de sonhos e fica mais forte, mais livre e mais terno
Subimos montanhas e verdes cataratas sublimaram a força de nossas raízes
E os desertos também nos vieram demonstrar o tamanho que somos
Ventos fortes quebraram os galhos golpeados de invernos
Sementes florescem e crescem ao entorno da seiva fluída que sai dessa árvore
Seguimos mais amplos, engalhados de pássaros que voaram pra longe
Humildemente nos vemos nessa árvore pomposa de sombras à espera do outono.
47ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Vamos falar de flores?”
Outubro/12
Flores
Uma menina falou ao poeta que gosta de flores
E o poeta lhe diz coisas das flores…
Uma flor nasce da terra
É vermelha, tem nome de rosa
Não possui muito perfume, mas sobra beleza
Outra flor nasce no mangue
Ninguém sabe a cor, perfume, nada
Ninguém consegue caminhar no mangue e ir até a flor
Mas ela está lá rara e só
Uma flor nasce no mar
Gosta de sal e bóia nas águas
Mas só mostra as cores quando bebe água doce
Outra flor nasce no escuro
Na muito alta noite a flor traz o cheiro do fundo do escuro
Ninguém a vê é das escurezas que vêm o seu cheiro
Quem percorre a noite sabe que ela existe sumida no escuro
Há também a flor do ar
Flor do ar poeta?
Sim, a flor do ar vem no pólen ventado
Uns tossem, outros espirram, outros nem ligam
Mas a flor está no vento que gosta de flores longínquas
E tem a flor fogo
Ela nasce na dança das chamas das mais belas fogueiras
Tem pétalas de todas as cores, é mágica essa flor
Viu menina, flores nascem em todo lugar que plante flores.
48ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“O Natal Existe”
Dezembro/12
Menino Jesus
Andava por aí um Menino
Nascera assistido pela natureza
Feliz era o Menino
Crescera no amor da família
Estivera sempre atento ao amor
Sabia Ele os significados de tão bela palavra
Exercia-a como bem maior
Carregava-a em seus olhos e gestos
Crescia o Menino
E os espinhos e farpas
Da vida apregoaram suas mãos
Conheceu o avesso do amor
Caminhou estradas, campos, cidades, navegou…
Voou, viu tanto mundo, tantas gentes…
Nesses tantos olhava e sentia
Buscava e nada, nada de amor
Lhe deu vontade de nascer de novo.
Nascimento da flor
Nasceu uma flor na terra revolvida pela bomba
Terra revirada, sem adubo, mas a flor nasceu
Vieram os olhos das pessoas famintas e viram a flor
Não criam que terra tão infértil poderia dar vida
Regaram a flor, cuidaram que a mesma crescesse
Veio todo um povo ver a flor
Sua fome era grande
Nada nascia na terra revirada
Só aquela flor teimosa nasceu ali no lugar da bomba detonada
Devia ser uma ilusão aquela flor
Vieram nações inteiras ver sua cor
A flor impávida crescia ali no lugar da bomba detonada
Floria vermelho, vermelho bem tinto
Que nem sangue era a flor
A civilização inteira à viu ali no lugar da bomba detonada
Trouxeram adubo para a flor
Era tanta terra fértil que chegava dos mundos diversos
Que uma nação formou-se em torno da flor
Nem parecia que houve guerra
Que gentes morrerão sem que a morte avisasse
Sabe-se que depois da flor ninguém teve fome, nem terra revirada.
49ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Somos Pacíficos
ou Beligerantes?”
Janeiro/13
Por paz
É verdade que estamos em paz
Que gostamos da paz e gozamos seu voo
Mas não aceitaremos assim suas mãos apontando
Sua língua mentindo conveniências do hoje
Máscaras insanas trocadas nas fiéis circunstâncias
É verdade que a paz desenhou nascituro nas flores
Que perfuma e se vai com o vento perdendo-se…
E quando acaba o aroma da flor a paz se dissolve
Invisível tenta a paz assoviar o canto certeiro
Chega então a paz junto ao muro que divide irmãos
Passa por entre os arames farpados da guerra
Vê o fosso impossível à frente do muro
Depois do fosso um caminho minado
Tanques apontando para a paz além-minas…
A paz olha as maquinarias da guerra e pergunta-se
Como podem gentes escolher muros, abismos e morte?
Reflete a paz na sombra insolente do muro
A paz nasce das gentes que escolhem a paz
A paz dá as mãos a quem deseja apertar com firmeza
A paz anda pelo caminho mais belo, mais leve, mais lúcido
A paz necessita amor verdadeiro e vento na flor.
50ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Tema Livre”
Fevereiro/13
Tamanho do mundo
O mundo é um fio de cabelo na cama dos dedos
Um náufrago sozinho em lonjuras de mar
O mundo são os olhos de Elisa olhando outro mundo
São crianças brincando de outro mundo
Sem saberem de outro mundo entre tantos outros mundos
O mundo é sonho vivido e sonhado de novo
São luzes acesas sem que ninguém precise de mundo
O mundo é a bola de neve amassada nas mãos
O balanço das pernas da moça que vem sorrindo de braços
abertos num mundo de amor
O mundo é um barco sozinho no meio do mar
A linha do mar e do céu que chamam horizonte é o mundo.
Mudança
PARA ANNE ABREU.
O vento virou de repente
Saiu a rumo do ir
Turvas nuvens sumiram com ele
Ao mundo que vinha levou brisas, calmarias…
Nasceu no céu azulado um sol mais raiado da dita alegria
O vento ventava o sonho nas relvas além brumarias
Nuvens bordadas de flores nasciam, floriam…
Ventanias fluíam nas folhas que riam
Galopavam cavalos com crinas ventadas ao léu da magia
Voavam com asas mais livres, mais belas, mais vivas
O vento ventava o sonho nas relvas além brumarias.
51ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Rosas”
Março/13
Rosa
No botão uma gota de orvalho deixado da noite
Vai crescendo o desenho de rosa no sol da manhã
O dia se alonga nas frestas da flor
Beija-flor vem olhá-la e não beija
Só olha, voa em torno do mundo da flor
Suas pétalas dão coisas da luz e do amor
Beija-flor é que sabe das cores da flor
E a rosa, só ela, é que entende do amor.
52ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“CAPPAZ – 5 Anos
Voando nas Asas da Paz”
Abril/13
Asas de paz
AO AMIGO JOÃO BARBOSA DOS SANTOS NETO.
De estrelado nascituro veio o voo
Grandes asas desiluminando a noite iluminada
Aurora é luz que apaga luz no céu em flor
Voa sobre o mar planura infinda
Sobre verdes voa a raiar frestas, a cantar sonhos
Entranha luz movendo cores no caminho enflorestado da poesia
Segue o dia em multidão cores do mundo!
Atravessa as íris e enerva junto à voz do amor mais belo
Canta o nome dessa paz, sacia as fomes!
Que os incolores tenham cor em tuas asas
E o sol brilhando venha às nossas mãos ensolaradas.
53ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Mães: Criaturas que Amam…”
Maio/13
Da natureza dos guepardos
Quando mamãe guepardo voltou da caçada
Trouxe uma presa à boca de fera
Os guepardinhos saciaram a fome
Lambiam-se e retorciam-se na relva ensolarada
Mamãe guepardo olhava a família feliz
Ela sabia do amor devido aos filhos
Sabia ser isso, mais nada.
Tantas mães
Lembro da minha vó
Mãe de meu pai – vó Mariquinha
Tanto zelo tinha ela, muita vida e luz
Dos netos que são tantos
Me chamava de o mais novo
Gostava de estar por perto, junto ao fogo ou no jardim
Contava muito seus sonhos
Sonhava muito vovó
Meu pai ia vê-la e me levava consigo
Pedir benção à vovó e ouvir sua voz calma
Contava muito o que vira em cem anos de vivências
Um dia vovó mudou pra mais longe de meu pai
Ele sempre viajava pra beijá-la e pedir benção
E me falava em viajem
Cuide sempre de sua mãe.
54ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Dia Mundial do Meio Ambiente”
Junho/13
Enxada
À MEMÓRIA DE VÓ TUDE.
Vó Tude tinha uma enxada pequena
De tão gasta diminuíra seu tamanho a menos do meio
Eu cresci vendo vó Tude gastando aquela enxada
Tinha aquela ferramenta o jeito de vó Tude
Pequenina e capinada de bela vida
Já não capinava tanto como no tempo de moça
Mas às vezes depois do café ou na tardinha vó Tude a pegava
Arrancava batatas nos munchões perto da casa
Aterrava alguma abobreira ou suas ervilhas plantadas na ladeira da fonte
Ia indo lavoura a fora com a paciência de quem sabia esperar para colher.
Das hortas
Pense nas imagens da lavra degradada
Nos venenos lavando nascituros enfermos
Nos dentes mastigando frutos venenosos
Coma cores criadas pela terra revirada em suas mãos
Plante sementes, regue o sol, colha seus raios!
Nutra suas veias dessa força nascida no quintal
Poupe a natureza dos tenazes pesticidas
Respeite a mãe que nos dá vida e sejas grato
Nos canteiros colhas o amor da terra que recria.
55ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Tema Livre”
Agosto/13
Âncoras
Na flor d’água o barco é corrente aliada da lua
Ao fundo as águas sedimentam pedaços de escuro
Nascem algas desesperadas pela luz
E sobem como raios ao encontro de raios
Outro sol rebate as águas do meio para o fundo
Vai a luz ancorar-se no limite do escuro
Mais abaixo aviões perdidos das rotas aterrizaram voos de âncoras
Galeões naufragados levaram tesouros ao fundo das águas
Ancoram perdidos pedaços no mar
Quinquerremes cravaram esporões em último ataque no corpo das águas
Remam Cartago e Roma um encontro de âncoras
Areias riscadas empoeiram os rastros
No fundo do mar os barcos são âncoras.
Demasiado silêncio
É difícil para vós entender o silêncio
Amanhece calada sua voz e não suporta multidões seu olhar
O silêncio olha e a vitrine irradiada em seus lábios é muda
Sonha lonjuras cruzando a memória em silêncio
Arrumando os cenários da vida vai habitando
Silenciado absorve a matéria do sol da manhã
E não fala quando queimam as nervuras dos olhos
O silêncio se guarda ao léu das imagens
Não revela o silêncio
O silêncio escuta
Ouve sua voz teimosa em dizer o que guardo
E nem desfaz aquilo que dizes pensando ser eu
O silêncio absorve palavras e não se importa.
56ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Paz, harmonia e amor”
Setembro/13
Pintura do Sol e da Terra
O Sol fez meia lua no horizonte
A Terra ia dançando, girando, girando…
Mais o Sol subia mais luz vinha
A Terra continuava sua dança, girando, girando…
Tudo Nela tinha cor e movimento
O Sol ia aquecendo e os orvalhos descendo
À Terra um alguém ia plantando e dançando
Ao Sol ia esquentando e o calor aumentando
À Terra um alguém ia capinando e dançando
Mais alto ainda o Sol ia clareando
Na Terra um alguém ia colhendo e dançando
Girando, girando, girando, girando.
Das regências
A noite sublima os pássaros
Uns dormem empoleirados nos galhos mais altos
Outros dormem sobre os ninhos
Há os que buscam alimento à noite
A Natureza deu lugar e fomes diferentes aos pássaros
No meio ao silêncio a noite acorda ao cantar do Urutau
Os pássaros que acordam ouvem seu canto e voltam a dormir
Outros seguem acordados esperando o momento de ouvi-lo e
também cantam seus cantos de pássaros
A noite se torna canto e mais canto
Quando todos cantam as vozes da mata Urutau se
aninha ao seu mimetismo e ouve a alvorada
No auge da ópera a noite entrega ao sol a sinfonia do amor.
57ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“20 de Outubro – Dia do Poeta”
Outubro/13
Poeta
Poeta movido de luas uivadas
Composto de versos raiados de sóis e selvas brumadas
Poeta escrevendo no grito exultante as estrofes da faina
E as vozes mudas dos pergaminhos pedindo palavras
Poeta sonhando rimas nascidas na relva das gentes
Percorrendo universos nas folhas dormentes reviradas de invernos
Poeta envolvido de ritmo na dança do mundo
Plantando na lavra luzes de um átomo nucleado de nadas
Poeta nascido nos vórtices ventados da vida
Flutuando aos ciclones vagantes em busca da paz
Poeta expandindo na carga veios de magma
Erigindo caminhos na fúria do fogo sublimado de lavas
Poeta à deriva nos mares, nas ruas, nos céus…
Inclinando seus olhos às estrelas pulsantes do sul e do norte
Poeta ancorado na pena de um barco sem leme, sem âncoras
Navegando no rumo do longe, pescando poesia ao léu das imagens.
58ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Justiça e Paz no Brasil – Hoje”
Novembro/13
Das crianças amadas por brisas
À cor desse sol de hoje caminham pelas esquinas
os filhos da solidão
São crianças sorridentes andando em caminhos vãos
Nem um erro cometeram, nem aprenderam a errar
São pequenos retratados num flash de claridão
Suas histórias são de fomes crescidas em luares vãos
Fome de amor, de benditas fatias do mesmo pão
São tantas que vão surgindo enleadas na cor do vão
Sem pais, sem rumo, sem nada, nem mesmo absolvição
Se por ventura encontram no caminho a educação
Vão cantando à sociedade as vozes sem ilusão
Na voz afinam sorrisos que não tem condenação
São puras, livres, pensantes fatias do mesmo pão.
Olhos ocultos
Se fosse a História da margem escrita pela injustiça
Crianças teriam fome, os pés descalços, as roupas sujas…
Se fosse a sociedade conter os erros dos reis
Haveria condenados na clara forma da lei
Se fosse os filhos da rua buscar os pais que não têm
Quantos sonhos voltariam ao lugar que lhes convém
Se fosse buscada a forma para hoje termos paz
Mais livros às mãos teriam – mais pão e fome de amar
Se fosse erguida com força bem mais alta a educação
O templo do bem amar – vós teriam mais vontades,
mais firmezas, mais forças para lutar
Se fosse a luta diária buscada dentro de si, com o devido
respeito à clareza do querer
Quanto tempo vós teriam pra viver absolvidos da própria absolvição.
59ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Natal de Luz”
Dezembro/13
Da outra luz
No coração do menino uma luz renova o brilho
Seus olhos vibram tão fortes qual luz de estrela solar
São tantas suas palavras nascidas para guardar
Guardar assim feito um círio que azula ao não apagar
Brotando chama mais forte do reviver, reflorar…
Clareando muito mais forte, além da luz do olhar.
Luz do Natal
Nesses dias de dezembro que vão até o Natal
Dias que vão passando por entre as brisas do vento
Por entre o tempo que vai revendo o seu nascimento
Me pergunto aqui comigo nas distâncias que percorro e
quiçá também persigo ao me lembrar do Natal
Quanto tempo se precisa pra buscarmos mais pureza?
Mais verdade? Mais amor? Mais luz divina ao Natal?
Há tantos caminhos longos trilhados para o Natal
Tanto amor desencontrado nesse tempo de Natal
São tantos os horizontes rebuscados nesse dia
Tão grandes são as distâncias para cantar o Natal.
60ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“Holocausto Nunca Mais”
Janeiro/14
Quando o corvo diz nunca mais
Do outro lado do arame a fuga roçava as mentes
Do outro lado da mira os olhos eram de adeus
Os campos não tinham flores para tantos funerais
Levavam embora os judeus por serem judeus
Levavam os ciganos por serem ciganos
Nos hospícios nenhum doido para guardar a doideira
Levavam os loucos só por trazerem loucura
Se não tivessem a estética iam à viajem do trem
Depois o trem ia embora deixando as gentes nos campos
Gentes carimbadas na carne
Dormitando amontoadas desmaiavam famintas
Engolindo gás tornavam-se átomos de fogo
Abraçavam o corpo ao lado empilhado na cova
A cova da memória que não cala a palavra Holocausto.
Um trem para Treblinka
Um trem sem janelas passa nos trilhos da Polônia
Fora a paisagem tem imagens da Polônia
Longa viagem da angústia dentro do trem na Polônia
Insones horas noturnas em vagões na Polônia
A máquina puxa o trem pelos trilhos da Polônia
O vento é puro e sereno sob o morno sol da Polônia
Passageiros buscam frestas dentro do trem na Polônia
Das durezas brotam lágrimas em vagões na Polônia
A longa fila de aço vai parando numa estação da Polônia
A noite veio terrível sobre o chão da Polônia
O ar tem medo de entrar nesse porão na Polônia
Um banho com a cor da morte desaba sobre a Polônia.
61ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“20 de fevereiro
Dia Mundial da Justiça Social”
Fevereiro/2014
Caminhos do amor
À ESCOLA MARÇAL CARVALHO DA ROCHA, QUE ENCURTAVA OS CAMINHOS
DISTANTES.
Havia uma escola naquele lugar de campos distantes
A comunidade eram caminhos e casas distantes
Quando havia aula os caminhos se enchiam de passos
Os passos chegavam à escola naquele lugar distante
Uns traziam as geadas nos pés arroxeados de invernos
Outros diziam da sanga que encheu com a chuva da noite
Do cavalo que escapou e as pernas atrasaram a chegada
Vinham de todas as casas distantes àquela escola
Inclusive a professora que encurtava um pouco as distâncias
Iam uns juntando letras amanhecidas de espanto e descoberta
Viam nos mapas o tamanho de um mundo menos distante
Alguns escreviam as imagens dos seus primeiros textos
Estes eram lavras de terras, matas e campos do pampa
Quando as famílias eram chamadas vinham de suas distâncias
A escola era encontro fraterno de alegrias sem distância
As famílias olhavam seus filhos brincarem, avaliavam seus ritmos
Sabiam num fundo não tão distante que aquilo era amor.
Educação pelo milho
À MEMÓRIA DE PAULO FREIRE, EDUCADOR BRASILEIRO.
Ser educado nesses tempos onde as vozes deseducam
Partilhar caminhos em que conheceres se atentam à vazios
Ser educado – não pela força primitiva da régua
Nem pela dor das sementes do milho na lousa dos joelhos
O milho deve descer pelas gargantas educando o estômago
Ser a semente plantada nos lares das famílias que amam
Das escolas que elevam ao pensar da liberdade e da alegria
Da sociedade olhando seus filhos além da cidadania.
62° Ciranda Mensal CAPPAZ
“Brinde à Mulher”
Março/2014
Isadora Duncan
“DANÇAR É SENTIR, SENTIR É SOFRER, SOFRER É AMAR…TU AMAS, SOFRES E
SENTES. DANÇA!”
ISADORA DUNCAN
Bastava o corpo estar ali
O céu alinhar estrelas
Ter um palco para sedas
Um pulsar rebelde do sonho
Ela dançava ao ritmo das veias
Das marés enluadas
Da luz arrancada do sol e do corpo
Quem a via ritmava-se
De loucuras estéticas
De liberdades até então não sentidas
Ventos tempestuosos levantavam seus braços
Vulcões fumegantes levantavam suas pernas
No alto céu ela girava os tufões de seus pés
Bailavam seus olhos florescidos na alma
E conseguia ser pássaro.
Das senhoritas
Sempre há uma senhorita
Uma é muito ocupada com não sei quê, só dela tem dez mundos
Outra passa olhando dura e dura enquanto passa
E teima olhando reto como se negasse todas as paisagens
Fora da reta tudo é dela, mas ela não conhece
Outra é marinheira, vem arrumando o cabelo e finge falar ao
telefone com uma amiga que está para chegar mas não existe
E há a senhorita com sorriso cortês e olhos de tigra que passa prateando
Seus dentes são um colar dentro da boca
Eis outra que insinua vulcões
É bonita e impura, como o vento recolhe o mundo e depois larga a toa
Sempre há uma senhorita atrás das palavras de amor
E o poeta escreve para uma, para outra, para todas
Eis que chega uma senhorita na casa do poeta
Abraça o poeta, almoça o poeta, lavra as palavras do poeta
Depois some deixando os olhos do poeta à espera de vê-la de novo
E o poeta escreve, sonha e cuida ela vindo ao portão como nuvem de mundos.
63ª Ciranda Mensal CAPPAZ
“6 Anos pela Cultura de Paz
Bodas de Açúcar”
Abril/2014
Aniversário
São belas as mãos unidas no dia de seus anos
Flor nascida aos raios da paz
Você vem crescendo e versos lhe adubam
Vão regando-lhe as raízes águas de esperança
A cada broto sorriem seus olhos
Nas pétalas recendem o perfume das cores
Ao pólen espalhado pelos ares doces notas
de luares iluminam sua lavra – sua terra de paz.
Pequena
Menina doce que mexe nas tintas
Pinta desenhos de vozes e cor
Pequena menina que anda por cima
Das imagens, dos sonhos, da flor
Menina que voa no céu do condor
Rasura os sentidos da vida no amor
És tão bonita, tão forte, vivaz!
Arteira crescendo com olhos de paz.