Louvor ao Sol
Esperamos na montanha vendo o mar
Enfogueiramos a noite abismada de astros
Cantamos caminhos, vozes universais
Nascemos azulados de nuvens
Habitamos embrasadas cachoeiras de magma
Nossas mãos, puras espadas, se alongam nas estradas da luz
Atravessam o tempo
Enfeixam-se ao limite do céu e do mar
Um chamamento leva-nos
Acariciamos a brisa da tua cor
Acolhemos os calores dissipados da tua dança
Abraçamo-nos
Queimamos retinas, fitamos o vinco que abre estações
Olhamos no claro a flor no horizonte
Cara a cara avançamos ao fogo cegados de amor
Fluímos no espaço
Ensolaramos auras, mantras, rostos perdidos…
Libertamos o fogo.
Decantamentos
PARA ITAPUÃ.
As águas dos dias escorrem para o cimo crepúsculo
Ventos levam os ares do sol ao outro amanhã
Auras viram ondas a cair sob as sombras
Vultos adentram a simbiose da noite
Em alheio sentido danças acontecem
Um turbilhão invade devaneios em cheios mares de luz
Há um ajustamento de loucuras no silêncio dos redemoinhos das águas
O círculo no seio da vida aniquila temores
Afundam-se navios carregados de angústias
No desalinho das curvas afogam-se séculos
Âncoras caladas no sempre observam ocasos
Ali peixes guardam desconhecimentos eternos
As marés ficam confusas
A queda das águas mergulha desconhecidos vazios
Inundam o leito escuro dos vales
Vão as águas ao recuo das marés
Cobrem pedras caminhos de musgos
As águas dissolvem-se nos tons dos meus olhos
O coração arranca voos que giram a viver e a viver…
A leitura das águas fulmina retinas
Deságua o silêncio
Ventos alcançam pedras ao intacto esmo
Calafrio inundado num sonho
O voo dos ares carcome decênios nas pedras inatas
Séculos intocados a esculpir reentrâncias deixam aos sopros do hoje sua espera eterna
Fiam pedras o pouso dos passos de meus pensares
Pássaros dormem prenúncios de cânticos
No entorno lúcida paisagem de cores desenhadas nos pincéis das auroras
Voltam as águas a bater no risco das pedras.
Canção de fim de tarde
Levanta calmamente o violino
Observa o dia entardecer
Completa as ilusões com o abandono do sol
Lava no oceano tuas pálpebras de angústia
Assume a esperança da brisa
O redemoinho da vida
O contorno de curvas da moça
A parafernália dos átomos
A subjetividade das deusas
A sinfonia da flor.
De duas tempestades
Tempestades voejam vorazes no céu da cidade
Negrores se movem, azulados se movem, cinzentas
nuvens se movem
E seus olhos azulam e cinzam e queimam nas minhas lembranças
Molham as ruas miragens de relvas
Aromas urbanos evolam de volta ao conluio das nuvens
Agito meu céu
Entardeço no meio do dia e entro na noite rasgando
as estrelas com voz esverdeada
No vento, refúgio carreado de poeira, arrasto meus pássaros
em voos rasantes ladrilhando seus olhos.
De duas tempestades – Tomo II
Nuvens estrondam-se, misturam-se ventos…
Desse encontro de pesadas levezas nasce fogo das águas
De chamas que se guardam entre os pingos da chuva
Nesse meio entre nuvens brotadas da terra procuro-te
Não há mais altura na montanha
Contemplo o fervor expandido das veias da Terra
Nas ardências dos olhos te chamo
Deixo-me mergulhar olho a olho nas lavas
Voo desabando ao encontro que vem do teu céu
Relâmpagos faíscam e teus olhos enrrocham os calores do magma
O caudaloso encontro de Estige e Aqueronte mostra-se à frente
Navegamos, convém navegar além da rota, da fusão dos rios
Navegar até o rio desesperar-se e desaguar o sol na tua boca.
Vale da Solidão
PARA DONA VILMA.
Águia saia do ninho!
Levanta tua montanha de Folhas e Relvas
Anuncia Água viva nas pedras aveludadas de liquens
Carregue córregos, alturas de estrelas, pedras desabando de tuas penas
Águia voe mais alto!
Impeça a lua de luar emparedada em tuas asas
Leva minhas mãos à tua fome
Sede minha amiga no teu voo
Águia encare meus olhos!
Retira o mau poema dos meus versos e voemos livres
no Mar Morto de nós dois
Abraça meus caminhos em tuas sombras
Semeia as Paisagens Perdidas nos meus pés
Águia sempre impávida!
As garras do teu sol que te lapidem e
purifique o sonho Do Coração e suas Amarras
no leito dos teus olhos esverdeados
Águia encravada de rochedos!
Vozes te sonham, te saúdam…
Te condenam só ao Eu imóvel a crescer nesse teu peito
Águia furiosa!
O Tempo e o Vento te rasurem
Seivas elaborem tuas veias
Sementes virem carne
Ventos fortes te afastem a solidão.
Daquele pôr-do-sol
PARA FERNANDA MIRAGEM.
O Guaíba evola um céu em teus cabelos
Salienta entranhas atravessadas de purezas
reviradas em tua língua
O ritmo da lua enrola-se nos cílios embrisados de tua luz
E doce tua voz insinua minha pele
Sob as alturas empunhadas de astros revisamos olhares
Numa nuvem rósea a última chama do sol ilumina a noite
Ventos adoçados de ermas lonjuras resvalam nos eitos
do teu corpo
E traços da tua boca aninham meu nome.
Lunadas
Inversos são os dias
Jogamos dúvidas às vísceras da lua
Caminhamos nas águas vadias do cais
O sol não queima nossas peles insaciadas de brumas
O sol não acusa-nos em sua luz delatora
Raiamos a noite em faróis apagados
Tudo é deriva…
Remamos o silêncio
Buscamos o náufrago esquecido no marulho das conchas
Submersos nas chuvas elevamos as asas da memória
Entramos nas águas navegando a miragem que retorna.
Outonal sonho dos plátanos
As folhas dos plátanos e o outono dos sonhos
Os sonhos e as folhas dos plátanos no outono
No outono os sonhos nas folhas dos plátanos
Nos sonhos dos plátanos as folhas do outono
As folhas dos sonhos nos plátanos do outono
Os sonhos do outono nas folhas dos plátanos
Os plátanos do outono nas folhas dos sonhos
As folhas do outono nos sonhos dos plátanos.
Poema verde
São verdes teus olhos
É verde como o musgo nas pedras
Como as roupas trajadas nas árvores
Como o mar babilônico que banha o entorno da Ilha
É verde o céu noturno em raras vezes de loucura
É verde como a lua naufragada
Como o sol pousado nas folhas da aurora
Como bananeiras queimando em napalm as gentes amarelas e os verdes arrozais do Vietnã
São verdes as tardes que cobrem nossa mesa e as roupas dos que cercam-nos na paz
São verdes as cores de Iberê enteladas na memória
Nasceu das matas e das penas dos pássaros o verde que colore os espelhos nas águas e os
brotos que nascem em tua pele
E são verdes os desenhos tatuados nos teus sonhos
São verdes os pratos e espalha-se no vão dos talheres as verduras da tua boca
São verdes nossas mãos que se apertam enrelvadas
E verde é o baixo relevo entalhado na flâmula dos mares que beijarão nossas sombras ao
mergulho da noite que ainda não veio.
O abridor de horizontes
Vou à forra com a cara da vida
O amante louco veio levar-te para um céu de miragens
Lá vai o anjo, vai o anjo a riscar estranho sal de suor nas areias da pele
Destoar de delírios calados vislumbram seus olhos
Em sonhos novos sóis de poesias queimam sua pele
Voa anjo anoitecendo horizontes
Emana teu voo em luares
Acorda os ventos em orquestra
Carrega as dores dos adoradores de cinema
Expulsa o paraíso a queimar no inferno sua beleza
Assume o alcatrão das eras
Derruba a amurada da vida
Ponha raciocínio em ilusão
Estradas te conduzam a muitas vidas nuas pelo amor
Pássaros em coro te sublimem pôr-de-sóis
Alvoradas de mil cores te afoguem na crua cor do encantamento
Te possua o universo dos outonos com as folhas desgrenhadas do prazer
Cauterize sonhos maus em duas notas
À nau dos dias ice as velas emplumadas dos desejos
Assista o som das passadas pelas noites
Escale teias nos estribos desse agora em ondas vivas
Rasga a roupa da morte a todo tempo
Usa a nuvem da tua sombra como guia
Adrenalina seja amiga em aventuras
O céu amigo teu voe contigo a dança caminhante das visagens
A franja do horizonte seja esteira de sorrisos em pleno sol da primavera
Voa anjo pelo sal dos meteoros
Voa!
Agora acalmo o silêncio dessas horas.
Cavalos
Cavalos cavalgam nos campos os caminhos do cosmos
Alados avançam as asas alçadas ao ar armados de amor
Relincham reinando nos rumos dos rios a renúncia renhida dos reis
Celebram na cava das crinas um rito de ritmos e raiam relâmpagos
Desenham, desarmam, deslizam, derramam e domão o desastre
da dor nas dunas disformes da dança
Passos e patas procuram as portas do porto da paz, da paz de seus passos
Prateados e pretos pintados os pêlos dos potros paridos à ponta das praias
Margeiam os mares e marcam a música sem muros do mundo movido sem medo
Vigoram os ventos varados de vozes vagantes a ver a volúpia vivida da vida voada em
vitória.
Anahy
PARA A MENINA COM NOME GUARANI.
No alto, em alguma galáxia ela brilha
Das cósmicas poeiras nebulosas vem seu nascituro
E dança no espaço a luz vermelha
Emana nas distâncias siderais sua cor de estrela
Em órbita celestes mares navegam sua fuga de estrela
É veloz estrela navegante à olhar a terra livre
Paira luminosa cor na árvore fundida da sua luz
Suas flores são de hélio e hidrogênio
Céus longínquos orbitam seu silêncio
Guarda tantos sóis em seu tamanho
E são belos jardins quentes a textura da sua voz
Teima ser distante o caminho da sua cor
Mas é ela, a Bela Flor dos Céus.
Cosmos
“Eu vi coisas que vocês, humanos, não acreditariam. Naves de ataque em chamas nas bordas de Orion. Vi Raios-C cintilarem na escuridão perto do Portal de Tannhauser. Todos esses momentos ficarão perdidos no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer” ROY BATTY (Rutger Hauer no fim do filme Blade Runner)
PARA DANIEL PISSETTI MACHADO.
Olhar o cimo sem telescópios
Ter as luzes de estrelas entranhadas nos olhos
Luzes geradas antes de nós sermos isso que somos
Humanos em meio do Cosmos
Olhar o cimo aumentado nas lentes
Ir além dos olhos no caminho das luzes
Percorrer galáxias expandindo a vontade do fim
que aumenta ao longínquo caminho do Cosmos
Voar visitando planetas com os olhos da alma arrancados do corpo
Avançar nos velozes cavalos do tempo
Pairar sobre Sirius sem tocar sua beleza com o sentido do tato
E ter sua luz brilhando primeiro por ter enfrentado a beleza do Cosmos
Ir pelas luzes, ir irmanando galáxias…
Ver horizontes de sóis magistrais por ter trilhado o caminho do Cosmos
Romper por todos os lados os caminhos galácticos
Ir muito alto nos caminhos do Cosmos por ter a vontade de ver seu fim aumentado.
Para saber do tempo
Em janeiro, quando a flor do verão for o auge do jardim, teremos
esquecido as névoas de agosto
Seguirá um fevereiro com pouco carnaval e os calores dos dias vão
descer pelas costas aflitantes do verso até o mergulho das águas de março
Seremos impávidos no outono e abril servirá para desprender as
folhas que secam lentamente
Quando maio chegar pássaros migrantes irão por cânticos e grasnos nos
olhos que viajam para junho
Trigais estarão dançando a ternura do inverno
Julho virá, alegres laranjais terão os campos
O sol navegará para setembro
Nascerão flores tingidas de esmero
Acordará outubro em meio à relva balançada pelos ventos
Luas claras brilharão na primavera animada pela brisa atenuante de novembro
Então por fim dezembro será um nome
Nome de coisa, talvez de nada
O tempo segue para lá depois das luas.
Os olhos de Quindimun
O tempo lhe veio nas pupilas, cravou-lhe belas memórias
Conhecera poeiras de estradas e horizontes de águas
Cresceram imagens de relvas nos seus braços
A terra tinha lhe dado aquela cor revirada de leivas
Ao redor nervos retinavam magmas e davam-lhe forma de homem
Sentia gratidão por haver sido feito à beira do fio
Sua fusão foi martelada nas lavas beijadas pelo mar
Fluíam luzes curvas na janela das córneas
Quindimun as abria e ouvia as dobradiças rangirem as cores
Fogueiras nasciam nas íris afrontando relâmpagos
Queimavam noites enluadas a uivos de raios e poemas-fogo
Focavam periferias de estrelas cristalinas
O preto e o branco coloriam delírios indeléveis no cosmos
Quando estrelas caíam guardavam nos subúrbios seus pedidos
No sono serenado viajavam as léguas na altura das águias
Acordavam na força do sol raiando folhas outonadas
Foram brisas azuis nas manhãs acordadas por pássaros
Não se abriam de chofre suas pálpebras
Regurgitavam a lembrança do sonho
Depois levantavam rente às veredas da face
Punham-se na prontidão renascida de lavouras brotando
Abriam-se ao entorno da luz como lanças em voo
Quindimun era pó que alçado ao ar lagrimava seus olhos.
De lugares
PARA MALÚ FERREIRA.
Tenho andado
Andado o quanto podem minhas pernas carregar-me
Meus pés pisaram tantas terras nesse chão chamado ir
Tenho olhos fincados em desertos caminhados de mim
Endunadas caminhanças percorrem noites nas auroras
Afloram ranhuras no solo dos meus pés e nascem árvores
nas fendas que se abrem nos passos libertados nas manhãs
Ondas rebentam renascendo ruídos de ruas que sem mim
esqueceram minha sombra e são ruídos de ruas sem mim
Vultos passeiam retinados nas lonjuras do cosmos
Lembranças caminham na memória fatiada dos sonhos
Continuo a andar, caminhos agarram sorrisos em minha boca
Teimam horizontes à ceder suas belezas nevascadas de flores
No cume das coisas ventos dão-me tamanhos de sóis
Distâncias me percorrem pelos átomos do som
Poeiras me acendem no fogo queimante da aurora
Assumo o passo que deixei marcado num perfume de estrela.
A Dança do Fogo
Vem pelo raio envolvido de nuvens
Raia no espaço a dança de cores
Inicia o Fogo sua mágica
Ondulam ao vento calores de chamas
Espalham incendiando fogueiras à relva do Fogo
Fúrias de belezas encantam
Queima na dança das chamas a força do Fogo
Densos braseiros vermelham como plasma solar
Ímpetos alteiam energias na Dança do Fogo
Fluem as cargas queimantes das vozes do Fogo
Incendeiam chamas verdes fulminadas de Fogo
Levantam a quente fúria do Fogo
Azuladas luzes enfumaçam-se em meio as cores do Fogo
Amarelos arrimam-se enflorestados de Fogo
Flamejantes faíscas se apagam ao luar no encontro de
estrelas chamuscadas de Fogo
Rumoreja o Fogo uma dança violeta
Laranjas de Fogo abrem suas chamas
Aquecem desenhos de vida iniciadas de Fogo.
Dança do Ar
É leve a brisa pairante assumida pela dança
Essa atmosfera de átomos invisíveis pelo Ar
Essa cousa intateável de nadas que vem dançar
Sonhos planam em tantos ventos indeléveis pelo Ar
Habitam no alto voo imagens do iluminar
Voam velozes sons dissipados pelo Ar
Levitam no universo amores para dançar
Avançam também nas nuvens na harmonia desse Ar
Irmanam-se na dança voante desse jeito de dançar
Comunicam nos azuis formas de asas no Ar
Nas asas elevantes da beleza ao se espraiar
Deixam-se assim pairar levezas por todo Ar.
Dança da Terra
A voz da Terra dança num mundo sempre a girar
Os pés tamborinam a dança que faz da terra saltar
A força vem e adentra por entre a sola dos pés
Nutrindo sementes boas brotadas da cor da fé
Crescem raízes, entranham-se na Terra como nos pés
Seguram ventos galhadas arrimadas pelo ar
Ficam altos sobre a Terra sonhos vividos ao luar
E gentes revolvem húmus a desenhar belo andar
Seguem vivas, exuberantes árvores a rebrotar
Vão a desabrochar flores nascidas desse dançar
Seus frutos crescem mais doces embalados pelo ar
A dança semeia o pólen voante desse bailar
A Terra acolhe na dança a cor do enraizar
Devolve renascimento vertido pelo dançar.
Dança da Água
Vai a corrente da Água fazendo voltas na terra
Deslizam pelas planícies, montanhas, quênions, crateras…
No mar se embala nas ondas ventadas de todo ar
Vai ao céu evaporando e ao denso cimo das nuvens
retornam frutificar
Nuvens de tantas Águas que bailam por entre o ar
É a dança das boas Águas que voltam para molhar
Molhar a terra, dar forças, unir a voz do dançar
Carregar os nutrientes da vida à luz solar
Aguando por assim dizer também a cor do luar.
oi so fer
Oi Fer. Sou o Poe…
Very inspiring poems – I am your fan 🙂
Thank you for reading my poems.
I wish you peace.