Cerro do Ouro
PARA O AMIGO ROBERTO RAMOS GARCIA BATISTA.
Ali é o Cerro do Ouro
Lugar que pegou o nome por ter ouro sobre o poncho
Num tempo de não sei quando porque o tempo se esqueceu
Num floreio de carreira tão logo atada a aposta sobre um poncho tilintava
moedas cunhadas à ouro para o jogo dos cancheiros e prata pra gurizada
Depois de feito o arremate não se voltava pro início
Cancha reta, campo aberto e pingos que não abriam
Carreira é sempre carreira
Nem sempre o pingo mais bueno levava o ouro do poncho
Muito jóquei muy ligeiro corria surrando bem e cruzando ao meio
pescoço no final da cancha reta voltava em marcha ladeada
Depois da poeira sentada outras moedas no poncho
Outra parelha se vinha e ali seguiam joquiando
Muita ponta de gado foi vendida pra carreira
Algum pedaço de campo virou ouro ali no Cerro
E até talvez algum sinuelo ficou ponteando outra tropa
Meio ao pampa missioneiro chegavam gentes de longe
De todo lado se ouvia os rangidos das carretas e a cordeona de algum taura
Vinham índios, uruguaios e até algum argentino por ali jogou carpeta, ganhou
e perdeu carreira
E muito jogo de osso deu trabalho pras adagas no levantar de outros ponchos
Peleia de ferro branco relampeava junto ao ouro quando a esperteza era grande
Na ligeireza dos braços mesmo o guasca vaqueano podia deixar o pingo
pastando pelo varzedo
Se acampavam por ali em meio ao pampa missioneiro nos campos de Santo Antônio
O comércio se ajeitava pros dias de carreirada
Os que conhecem carreiras sabem bem do que é feita
Além do jogo de fato que faz ganhar ou perder
Tem churrasco, carreteiro e também tem rapadura
Doce de abóbora dali daqueles rincões e algum doce de leite
pra comer à meia tarde quando senta a churrascada
Pastel de carne buerano que não falta nessas horas e alguma canha
na guampa para o destapar das auroras
Quem chegava prevenido trazia charque das casas e muito boi berrou grosso
na talagada da faca nas carneadas ali no Cerro
Tinha também algum brique feito com panos de prato levados pelas xiruas
Uma pontilha bordada numa moda diferente já dava vozes de brique
E assim iam trocando, conversando e se entendendo em meio aos panos do brique
Por certo algum casamento se arranjou nessas conversas nos dias de carreiradas…
Carreira, quem quer carreira não fica olhando de longe
Se enfia em meio às conversas de quem vai lá pra correr
Vai olhando a cavalhada
Vê o estado, olha o pelo e não se engana com sarna feita por faca de peão
Cerravam olho no olho, no bigode ou no facão
Quantas encilhas perdidas nos gritos dos mais afoitos que bem montados chegavam
e por azar do costume pelo ouro se acabavam até ficar só o cavalo
E iam dando as tiradas ali no Cerro do Ouro
Cancha reta, campo aberto e pingos que não abriam.
Um taura
AO AMIGO CHICO.
No velho Rincão das Ilhas
Onde verteu nascimento José Euclides Lourenço
Criou-se xucro turuno pelos potreiros da infância
Foi aprendendo no campo o que o galpão não ensina
Emangueirando nas tardes as leiteiras da invernada
quando o sol com meia braça também fechava a porteira
Na passagem dos invernos foi taludando o pêlo
Sem jamais seguir cincerros se soltou nos corredores
Arrocinando aos arreios um potro recém-sovado
cruzava batendo casco na estrada de pampa e céu
Nos anseios das cancelas que fora levando adiante
Atravessou madrugadas batizadas de serenos
a esporear nas auroras o colorear de algum pêlo
Foi se domando solito no lombilho das coxilhas
Sempre refugando o freio porque bagual não se
enfrena e redomão se termina
Conforme a lua do tempo foi lhe varando invernadas
Aprendeu nas lidas brutas nos campos junto à peonada
Nos floreios das vivências a orelhar o carteado
Por vezes se encanzinava a se apartar do rodeio
varando o Passo num upa
Dando rédeas nas picadas saía ao campo assoviando
Levando pelas lembranças perfumes de flor morena
nascido n’algum sorriso de xirua enluarada
Ao apear pelos fandangos n’alguma beira de estrada
O pingo de cola atada ficava à espera encilhado
em algum galho amarrado meio longito das casas
No meio dos vaneirões saía na polvadeira
Nessas danças da fronteira que dão ao peão alma nova
Em bailantas rodopiadas pelos vestidos das prendas
dançava uma noite inteira perdendo os tacos das botas
Se por ventura outro touro quisesse fazer parelha
Já saía na guasqueira desatando o ferro branco
Em peleia de fandango, bolicho ou de corredor
Riscando de talho em talho vai charqueando o carneador
Se a coisa parava feia porque peleia é peleia
E no meio ao reboliço se vinham que nem abelhas
a se agarrar nas melenas num zum-zum quase sem fim
Abria fogo num berro de clarear noite de chuva e ia
trançando os ferros, ora adaga, ora a pua
Talvez de tanto alvoroço foi enfarando às folias
Seguindo pelo galpão, mateando nas alvoradas,
laçando nas invernadas, domando pelas campinas
Foi tropeando nas estâncias, ponteando o tropel da sina
Correndo alguma carreira nas canchas retas dos campos
Jogando à sorte das tavas, coureando alguma brazina ou
golpeando algum dourado nas barrancas fronteiriças
Nessas águas que vão indo os dias de tua estada
meu caro amigo de mate
Teus netos já vão crescendo nas voltas de alguma
sombra de lugares que não sei
A cada Dalva que some eu mateio mais um tanto
Sei que um dia me levanto e me boleio de volta
se o mar não me levar adiante
Já contei muito moirão do Rincão até aqui por onde
as águas vagueiam um pouco daquelas águas do Rio Itacurubi
Sempre que chia a chaleira eu preparo meu amargo
Vou mateando despacito como garoa de inverno
Palmeando vou as memórias que às vezes vem de
repente dos mates feitos por ti.
Rio Uruguai
ÀS GENTES QUE SE BANHAM NOS BRAÇOS DA BACIA DO RIO URUGUAI.
Rio Uruguai!
Vens correndo nas suas águas
Nem tão mansas
Nem tão bravas
Vermelhas águas descendo a caminho do seu mar!
Vens correntezas nos verdes da pampa!
Vens marulhos de flautas em mãos guaranis!
Vens cantando!
Fluindo de encantos minha terra guri!
Suas margens aplaudem esse canto
E vem como um sopro do fiel guarani
Aumentam as águas crescidas por sangas e rios
Alagam os portos banhados por si
Levantam dourados na forte corrente nascida de ti
E se adona do mundo quem traz à barranca o seu surubi
Rio Uruguai!
Vens passando ao seu leito
Trazendo milênios cantados em ti
Rio Uruguai!
Rio da minha sede saciada
Rio de minha mãe, meus irmãos…
Rio da minha ternura e sangue
Se vais ao mar levas as flores
As flores nascidas em suas margens se dissolvem nas marés…
Em cada onda dos mares vai à porção dos seus sonhos…
Vai o flautear dos seus índios
Os pampas esverdeados
As vozes das lavadeiras
Os peixes que já fisgados foram carne ribeirinha
O cruzar do canoeiro que talvez fosse chibeiro
Ou talvez a travessia.
Como isso dá saudade. Um verdadeiro canto dos pampas. Grande abraço meu amigo.
Grato pelas palavras cara Paola.
Lugar de pessoas amigas, o Cerro do Ouro.
Nesse cerro passei cavalgando certa vez, mais de uma década de luas já passaram…
Abraço grande.
Simplesmente lindo os teus poemas, e em especial o que dedicou ao pai. Que Deus te de forças e sabedoria para que tu sempre nos encante com tuas palavras.
Grande Abraço Primo.
Querida Telma.
Grato pelas palavras.
Abraço grande prima.
estamos buscando -sin prisas- alguien que anime el futuro MasticadoresLusitania hablamos? fleminglabwork@gmail.com
Hablamos.
ok enviame un email de contacto y comenzamos a hablar…