Nesse poema – Por Odilon Machado de Lourenço

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

Nesse poema

Tenho nesse poema guerras, civilizações, tratados

Tenho nesse poema demônios, subúrbios, luas, uivos…

Tenho nesse poema sentidos, estrelas, naturezas noturnas

Tenho nesse poema desenhos, estradas, montanhas, fêmeas alucinadas

Tenho nesse poema desertos, catástrofes, lavas de fogo

Tenho nesse poema fervor de neblinas, fronteiras em caos,
baías em pânico, bombas e flores

Tenho nesse poema cavacos de alma, insanos perigos, silêncios de mim.

Autor: Odilon Machado de Lourenço

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Do homem que enfrentou o mar – Por Odilon Machado de Lourenço

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

Do Homem que enfrentou o Mar

Bravos sais da tempestade arrancai do mar as paciências!

Desordena suas vagas em meus olhos

Roube os soluços de minhas veias

Quebre quilhas, lemes, rasgue velas de veleiros solitários

Grande mar trajado de estrelas

Avarie o ritmo dos astros

Inunde as torres faroladas

Que afunde em teu sangue a voz da terra

Traga ó mar as cidades submersas do teu corpo

Grosso mar carneie a costa!

Viole a pedra impávida, alague lavas

Desabe nas montanhas o furioso tsunami do infinito

Destrua metrópoles, vaze cargueiros

Corroa o gelo de tuas lágrimas

Resseque nas areias de mil dunas

Evapore no céu das calmarias

Apague o sol, silencia o cosmos

Em todo azul ponha negrores

Lave os gases das galáxias

Suspenda os cabelos das sereias em eternas ondas de vapores nebulosos

Longos cílios do mar fechem seus olhos

Rochedos esfarelem nas suas garras

Brisas de sal soterrem…

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Para saber do tempo – Por Odilon Machado de Lourenço

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

Para saber do tempo

Em janeiro, quando a flor do verão for o auge do jardim, teremos esquecido as névoas de agosto

Seguirá um fevereiro com pouco carnaval e os calores dos dias vão

descer pelas costas aflitantes do verso até o mergulho das águas de março

Seremos impávidos no outono e abril servirá para desprender as
folhas que secam lentamente

Quando maio chegar pássaros migrantes irão por cânticos e grasnos nos

olhos que viajam para junho

Trigais estarão dançando a ternura do inverno

Julho virá, alegres laranjais terão os campos

O sol navegará para setembro

Nascerão flores tingidas de esmero

Acordará outubro em meio à relva balançada pelos ventos

Luas claras brilharão na primavera animada pela brisa atenuante de novembro

Então por fim dezembro será um nome

Nome de coisa, talvez de nada

O tempo segue para lá depois das luas.

Autor: Odilon Machado de Lourenço

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Elogio – Por Odilon Machado de Lourenço

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

Quando se enxerga a última chance da luz.

Elogio

Para Clarissa Cunha.

Ela tem simetria bonita no rosto
Seus sorrisos parecem luares
Ela é elegante no andar
Suas pernas dançam como ondas no mar
Ela tem voz de trovão
E quando cala exala rumores das chuvas de junho
Ela ilumina as peças da casa
Concorrem com os raios do sol suas luzes de estrelas
Ela sorri com os poros do corpo
Seus lábios em silêncio movimentam planetas
E quando dorme flores crescem no seu rosto.

Canoas, julho de 2022.

Odilon Machado de Lourenço

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Tela em braile – Por Odilon Machado de Lourenço

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

Tela em braile

Para Clarissa Cunha.

Folhas de palmeiras inertes as sobrancelhas
Portas de galáxias distantes as pálpebras
Rochedo pontiagudo e retilíneo o nariz
Lábios desenhados para alucinar a beleza
Na face macia das bochechas a temperatura da seda
Nas orelhas regatos curvilíneos margeiam os pequenos pelos que descem pelo rosto
Nos cílios um exército armado de lanças protegem a mais valiosa luz do seu olhar
No queixo uma proa de navio ancorado em maré baixa anseia pelas ondas altas de um mar acordado
Uma dança com bailarinas nuas se fundem ao pescoço
Cachoeira atravessada de sol e arco-íris seus cabelos
Na testa a flor de todos os chakras ilumina o jardim do paraíso.

Canoas, 28 de julho de 2022.

Odilon Machado de Lourenço

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Frida – Por Odilon Machado de Lourenço

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

Pintura de Roseli Farias

Frida

Uma tela navega por dentro das veias
Se expande porto a porto como mar de si mesma
Concebe realidade de entranhas
Externa versos pintados em cores dialéticas
Pinceladas vibrantes saltam do fogo da alma
Paleta com as cores manejadas de dentro
De quem expele a cor do coração.

Porto Alegre, junho de 2021.

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Marilyn – Por Odilon Machado de Lourenço

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

Pintura de Roseli Farias

Marilyn

Quem sabe o cinema continuasse sem cor
As cenas dos filmes encenassem outras divas
Como seriam os dourados cabelos de Marilyn?
Seu sorriso em flor abrindo mundos…
Quem sabe o cinema não filmasse sua voz
E um mundo dourado se juntasse ao pó
Quem sabe o desenho do corpo de Marilyn fosse apenas a marca de uma pinta no rosto
Sua sensualidade aguçasse nas câmeras o teor do delírio e não se projetasse em cinemas suas curvas marcadas em finos vestidos
Quem sabe qual mundo inventássemos
Que imagens criássemos sem Marilyn Monroe.

Porto Alegre, 19 de junho de 2021.

Autor: Odilon Machado de Lourenço

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Confissões da Aeromoça – Por Odilon Machado de Lourenço

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

Confissões da Aeromoça

Para Clarissa.

Como se pegasse as mãos da cidade
Deslizava no gelo com leveza e calma
New York rodopiava nos seus olhos de pássaro
Voou as distâncias da terra navegando estrelas
Passeou seus olhares onde os deuses de Atenas tem os olhos fincados no sol
Caminhou entre os ponteiros dos relógios de Londres
E a cada segundo o mundo era seu
Esquiou nas montanhas chilenas voando junto aos condores
Pousou sua sombra nas águas do Sena mergulhando sua aura na memória do tempo
Subiu as escadas das Pirâmides do Sol e da Lua
Sentindo nos pés a força das pedras
Percorreu caminhos de mouros em cidades ibéricas
Seus cabelos ventaram nos confins da Finlândia
Rastos apagaram-se nas fontes de Roma, nas águas do Tejo, nas estradas que ela jamais fora.

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Mulher Natureza – Por Odilon Machado de Lourenço

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

Mulher Natureza

No seu sorriso metade é sol
Outra metade lua cheia
Seus olhares migram como pássaros
E pousam para escutar o silêncio
Quando movem-se seus braços
Uma nuvem esvoaça-se em chuva
Quando seus passos se alternam na direção do poente acende uma luz em outro mundo
E seus cabelos cintilam estrelas
Mundos espalhados no universo
Cada ponta de seus seios anunciam revoada
Ventos planam nas asas dessa águia-mulher
Seu dorso coberto pelo magma da vida se desenrola em florestas, rios, montanhas, flores…
Suavidades passam pelo vão de seus dedos elevando horizontes com cheiro de mar e pedras incrustadas de musgos.

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A incrível roupa do homem do primeiro andar – Por Odilon Machado de Lourenço

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

A incrível roupa do homem do primeiro andar

Olho a cidade a mover mãos
Braços multiplicam-se
Picaretas estilhaçam muros e adentram
E outros obstáculos montanhosos surgem
Mais braços chegam para cavar
Cavam, cavam, cavam!
Ignoram ouro, diamantes, metais desconhecidos
Procuram um olhar, talvez um coração
E novos muros de aços advindos de lugares distantes surgem do chão às estrelas
E fossos minados se alinham aos muros
Braços de outras cidades juntam-se para cavar
Cavam, cavam, cavam…
Estranhos materiais geológicos vão sendo rompidos
E a matéria flexível ainda coberta
Cerne impenetrável, resíduos meteóricos, elementos químicos inominados
A dureza quebra ferramentas, cansa todos os braços
Não há como romper por fora.

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Iminência – Por Odilon Machado de Lourenço

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

Iminência

Que não me falte elegância na hora do soco
A mão direita pesa e a esquerda é chumbo
Sinto acidez no estômago de muitas gentes
Um ácido agarrado às paredes da garganta
Estranho incômodo regurgitado pois não quer ser engolido
Que não me falte elegância na hora do soco
Um devaneio no poder vai massacrando
Vômito não basta para limpar entranhas
É preciso não comer o intragável pedaço de verme
Não comer nada!
Prioridade contrária do desempregado
Da mulher segurando as tetas nas bocas dos filhos
Daquele que não sabe o que fazer
Sobreviver é a lei em meio às feras
Nossa solidariedade não basta, apesar de existir
Que não me falte elegância na hora do soco.

Porto Alegre, 20 de junho de 2021.

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Utopia – Por Odilon Machado de Lourenço

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

Utopia

Lá na volta da curva as flores se espraiam
Perfumam um bosque estendido em verduras
Lugar singular na beleza, estreita lindeza na volta da curva
Cantam cascatas ressoando nas matas os uivos das águas
Na volta da curva, alguém chega lá?
Caminham, caminham no corpo da estrada os rumos de lá
De encontro vem pássaros trazendo o encanto das coisas do ar
Aqueles que sonham à curva se entregam
Caminham e chegam ao lado de lá.

Autor: Odilon Machado de Lourenço

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Exú Tiriri Lanã. Por Odilon Machado de Lourenço

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

Exú Tiriri Lanã

Quando bate os pés no chão a mata treme
Como se fosse um tambor infiltrado na noite
O fogo das velas não lhe queimam as mãos
Nem sua língua se afeta com o toque da chama
O fogo é seu elemento num corpo que queima.

Autor: Odilon Machado de Lourenço

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Esperando a hora certa

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

por Jenis

dois, três, 
quatro e nem sei mais quantos 
já passaram depois que o amarelo do casaco
se fundiu ao amarelo da cadeira
a espera não um trem
mas uma marca do grande relógio
quem vai à estação 
para não embarcar em nada? 
mais um passando!
Júlio Prestes. lotado
bloqueiam por alguns segundos 
a parede de tijolos e janelas de enfeite 
que tenho copiar
janelas de enfeite 
uma passageira de enfeite 
ninguém vai à estação pra esquecer
opa, 
esquecer 

que palavra que não desgruda da caneta!

eu quis dizer 
esquecer
NÃO! 
ESCREVER!
ah
finalmente… 

Relógio bateu 
tenho que ir 

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Decantamentos by Odilon Machado de Lourenço

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

PARA ITAPUÃ. As águas dos dias escorrem para o cimo crepúsculo Ventos levam os ares do sol ao outro amanhã Auras viram ondas a cair sob as sombras Vultos adentram a simbiose da noite Em alheio sentido danças acontecem Um turbilhão invade devaneios em cheios mares de luz Há um ajustamento de loucuras no silêncio dos redemoinhos das águas O círculo no seio da vida aniquila temores Afundam-se navios carregados de angústias No desalinho das curvas afogam-se séculos Âncoras caladas no sempre observam ocasos Ali peixes guardam desconhecimentos eternos As marés ficam confusas A queda das águas mergulha desconhecidos vazios Inundam o leito escuro dos vales Vão as águas ao recuo das marés Cobrem pedras caminhos de musgos As águas dissolvem-se nos tons dos meus olhos O coração arranca voos que giram a viver e a viver… A leitura das águas fulmina retinas Deságua o silêncio Ventos alcançam pedras ao…

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Texto pandêmico | iorubá by Hang Ferrero

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

pra me afastar um tanto dos sete escudos do meu canto, encaixo um zumbi (do) nas orelhas. tudo feito pra ficar bonito; brinco(s), de estrela.

pra saída; o raiar o dia: bom pra dar de língua presta vida, até o bocejar do anoitecer e, pra funcionar bem certinho, sem grilos, sopro fininho, uns cânticos que apontam todas as galáxias da minha pele das areias do amar.

próximo passo: melhorar as próprias caretas quando canto em si, pra afastar os outros caretas de mim e pra que saibam: hoje, reajo afeito à barba por fazer de ontem, fazendo bem cuidada, a minha escuta, dos mesmos louvores que festejam o amor em iorubá.

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Microconto: Os três bules 

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

Fotografia cedida por Lúcia Lopes

By Daniela S. Terehoff Merino (@daniterehoff) 

Eram três bules vivendo há tempos nas prateleiras da mesma loja. O maior, não hesitava em falar de sua origem europeia, dizendo ser digno de servir reis e rainhas; o mais alongado, estava sempre se gabando de sua ascendência oriental e dizendo saber segredos milenares para fazer chás com propriedades curativas; quanto ao bule de joaninhas, não sabia nada sobre seu passado, sentia-se humilhado diante dos outros dois, e ficava em silêncio. Até que um dia uma senhora os comprou e guardou lado a lado em uma estante com fins puramente decorativos. Tiveram, todos os três, exatamente o mesmo destino. 

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Anderson Lucarezi: 100 poetas brasileiros

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

Anderson Lucarezi: Constelário (2016)

sequer o céu é sincero:

a estrela que cintila
não é a estrela que cintila,
visto que, na real,
imagem antiga.

o escuro que anoitece
não é o escuro que anoitece,
visto que, de onde vem,
já se fez brilho.

iria, eu, de volta,
fosse aceito,
a um céu do presente
em que uma estrela extrapolasse
ser mera brasa enganosa:
talvez, quem dera, farol
(visto que agora é lanterna traseira)
de um carro-tempo mais-que-perfeito.

Os poemas a seguir foram selecionados da obra Constelário (Ed. Patuá, 2016).

Anderson Lucarezi (São Paulo, 1987) é escritor, professor e tradutor. Publicou Réquiem (Ed. Patuá, 2012), livro vencedor do Programa Nascente USP 2011, e Constelário (Ed. Patuá, 2016). Como tradutor, dedica-se a trazer para o português as obras de poetas norte-americanos como Hart Crane, Jerome Rothenberg, John Gould Fletcher, entre outros. Faz, atualmente, mestrado em Letras Estrangeiras e Tradução na Universidade…

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Desperdício… By Miriam Costa

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

Minha riqueza é minha palavra, meu cárcere o silêncio.
Horas escassas que duplicavam nossos sentimentos, nunca entramos numa conversa que nos levasse a nada.
A vida é um idioma, os encontros aleatórios são invocados no passado, meus pensamentos voam mansos como os segredos que vão se lendo…
Com um sorriso a moça apresenta outra que me tatuou nos olhos janelas que davam para um precipício!
A madrugada tem seus delírios, diz uma amiga.
A madrugada é mãe de todos os filhos e tem seus cúmplices envelhecidos!
Desse mês bastardo, tivemos a graça de nos encontrarmos ao acaso, nós sem muito contágio, só nossas olheiras brindando o cansaço consciente. Fato!
Toda a pele cede ao apelo do corpo, são verbos, mistérios, laços de amizade costurando a cidade e os nossos sentidos se distraem com um aviso…
Quero ser mais do que uma Miriam, ser rima e elo, um poente, universo, quero…

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Declaração de nostalgia by Jenis

MasticadoresBrasil Editora: Miriam Costa

Ainda o tenho em meus poemas Já se foram três, até onde contei a presença secreta dele conforta sem razão aparente refúgio conhecido familiar não particularmente seguro mas me chama para a volta quase que em necessidade Quero ver de novo viver de novo quero ter 13 anos pedir desculpas vestida de xadrez quero olhar o desejo pela janela me perguntando porque não tenho coragem Por que me sinto olhando por aquela maldita janela a todo instante? Quero vê-lo arrancar a Torre Eiffel com os dentes de novo sentir o cheiro de maracujá mesmo que saiba saiba que não é isso o desejo mesmo que seja. E se (maldita junção) é medo de por no lugar? se o vivido já chegou no seu máximo me encontro em um padrão já tão baixo que não vejo modos de superar? Quem sabe… eu sei eu só sei que naquela música eu vivo…

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